quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

falcó

Primeiro volume de uma prometida série, "Falcó" garante momentos de diversão descompromissada para o leitor curioso sobre a guerra civil espanhola. Arturo Pérez-Reverte é um mestre na arte de escrever já pensando em uma possível adaptação cinematográfica. Claro, ele abusa sem dó dos clichês de livros de espionagem, do cinema noir, dos romances de aventuras e mistério, onde homens duros flertam com mulheres fatais, mas sabe povoar seu livro com um bom conjunto de protagonistas, produz diálogos inteligentes e controla o desenvolvimento das ações de seu folhetim até levá-lo a um insuspeitado final (a coisa não fica longe de ser caricata, mas quem se importa, se acabamos nos divertindo e aproveitando os truques narrativos que ele distribui pelo livro). Lorenzo Falcó é uma espécie de contraponto cínico ao heroico e valoroso Capitão Alatriste, personagem já consagrado de Pérez-Reverte. Reconhecido especialista em termos militares, Pérez-Reverte identifica sempre que possivel os modelos das armas, os tipos de granada e morteiros, caminhões de transporte, navios e indumentária utilizada pelos personagens. Falcó, um ex-contrabandista de armas, é um agente dos nacionalistas, grupo daquele que viria a tornar-se o ditador da Espanha por trinta e cinco anos, Francisco Franco. Acostumado a infiltrar-se nas linhas inimigas, a dos republicanos, ele sabe torturar e aguentar tortura, matar e escapar da morte. A trama envolve um possivel resgate de José Antônio Primo de Rivera, líder dos falangistas, grupo que apóia Franco, mas é um tanto mais radical, à direita, e está preso em Alicante. O livro é curto. Lê-se facilmente em poucas horas. O leitor não precisa saber detalhes da guerra civil espanhola para acompanhar a narrativa. Soube que há pouco mais de um mês Pérez-Reverte lançou o segundo volume da série, "Eva", onde reecontraremos Falcó em mais aventuras. Dificil dizer se esse personagem cairá no gosto do grande público, a exemplo de Alatristre. A Espanha é um país em que as marcas das divisões ideológicas daquela época ainda são visíveis e reepercutem na política contemporânea. Nem só de hipocrisia vive uma sociedade (sabemos bem nós, brasileiros, aferrados hipocritamente até a morte às nossas mazelas, narrativas históricas tortas e tontas, mentiras públicas, vícios privados, auto-enganos e ilusões coroadas). Arre. Vamos em frente. Vale!
Registro #1247 (romances #329)
[início: 23/11/2017 - fim: 25/11/2017]
"Falcó", Arturo Pérez-Reverte, Barcelona: Alfaguara / Penguin Random House Grupo Editorial, 1a. edição (2016), capa-dura 16x24,5 cm., 294 págs., ISBN: 978-84-204-1968-8

Nenhum comentário: