"O peso do pássaro morto" foi publicado em 2017. É o romance de estreia de Aline Bei e foi o vencedor do importante Prêmio São Paulo de Literatura em 2018, na categoria "Melhor romance de autor com menos de 40 anos". Trata-se de um romance de formação, um legítimo Bildungsroman, feminino, contemporâneo, caótico, um romance de formação torto, de uma protagonista sobre a qual pouco saberemos além daquilo que ela conta quase sempre em transe, que parece seguir o roteiro de uma lenta e decidida morte em vida, de depressão encarnada, com todos os azares, absurdos e pequenas tragédias típicas de vidas assim. Na verdade em todas as vidas há suficientes aborrecimentos para serem contados e parecerem ficção. Acompanhamos fragmentos desta vida, dos oito aos cinquenta e dois anos, escrito em prosa poética, sem muitas concessões ao leitor (jamais saberemos seu nome, onde os sucessos aconteceram, em que época e circunstâncias ela viveu). Os personagens com quem ela se relaciona o fazem episodicamente, sem o menor relevo, não têm a menor profundidade psicológica (cabe ao leitor associar a eles alguma cousa, após sabermos que ela gravita um mundo onde há um benzedor, uma amiga, uma mãe, um filho, um namorado, uma vizinha, etc e tal). De fato é um livro interessante, mas é escravo da forma. Claro, um primeiro romance, já premiado, pode tornar-se uma chave de acesso a novas experimentações e aventuras ou um fardo cruel (por vezes essas duas coisas simultaneamente). Vamos a ver o que saíra da lavra de Aline Bei no futuro. Vale!
Registro #1386 (romance #355) [início: 01/03/2018 - fim: 04/03/2019]
"O peso do pássaro morto", Aline Bei, São Paulo: Editora Nós,
5a. reimpressão (2018), brochura 14x18 cm., 168 págs., ISBN:
978-85-69020-23-3
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