Esse volume da Âyiné é um livro de poemas e também um livro objeto, um livro arte, apesar de ser múltiplo. Nele estão reunidos dois tipos de invenções nada convencionais da poeta Wislawa Szymborska, que recebeu o prêmio Nobel em 1996. Na primeira parte do livro estão reunidos seis conjuntos de poemas que brincam com palavras, conceitos, frases feitas, com as possíveis recepções destas frases feitas nos leitores. Noutra estão enfeixados 45 cartões postais que reproduzem colagens originais que Szymborska costumeiramente enviava a seus amigos nas festas de final de ano. A edição é bilíngue, mas quem poderia dizer que sabe polonês a ponto de acompanhar as soluções encontradas pelos tradutores Piotr Kilanowski e Eneida Fabre? Eu não consigo, menor dos anões que sou, mas me diverti muito com as tais "riminhas" da Szymborska. As duas propostas, os poemas e os postais, se complementam, são igualmente bem humoradas, de um frescor que encanta, de uma engenhosidade que disfarça uma inteligência refinada e inquisitiva. Talvez seja o caso de dizer apenas um tanto mais para aguçar a curiosidade do eventual leitor destes registros. Os seis conjuntos de poemas rendem-se a formas identificadas - em português - como "Dasvodcas", poemas de uma linha baseados em um velho provérbio polonês; "Moscovinas", poemas satíricos sobre a ocupação soviética do país; "Melhoríadas", que brincam com informações encontradas em cartazes, em hotéis, restaurantes e repartições públicas; "Altruitinhas", baseadas em um bordão de propaganda comunista dos anos 1950; "Escultações", fragmentos engraçados ouvidos quando se flana por uma cidade, no meio do burburinho das ruas e "Limeriques", talvez a única forma que seja mais ou menos conhecida por pessoas cultas (já registrei aqui algo sobre o bom livro de Dirce Waltrick do Amarante com suas traduções dos Limericks de Edward Lear, um dos mestres do gênero). Mesmo sem conhecer nada sobre estas formas, o leitor entende rapidamente o jogo envolvido nelas e se diverte com o livro. Os postais, que são resultado de processos de recorte e colagem, intervenção em iconografia encontrada em jornais e revistas, embalagens e rótulos, papéis de embrulho e livros, cobram mais envolvimento do leitor. Nem tudo é óbvio e mesmo os títulos das obras soam traiçoeiros, brincalhões. Não se trata de algo que deve ser entendido com a razão, com o intelecto, mas sim experimentado com os sentidos de uma criança que descobre o mundo, sem temor, sem reservas. As artes plásticas e a literatura interagem desde que o engenho humano as criou, mas trata-se de linguagens bem diferentes. Nem todo mundo que aprecie os postais gostará dos poemas, etc e tal. Eu mesmo gostei muito de ambos. Enfim. Trata-se de um livro que vale o tempo que dedicamos a ele, que faz a alma um grande bem. Vale!
Registro #1373 (poesias #105)
[início 30/01/2019 - fim: 28/03/2019]
"Riminhas para crianças grandes", Wislawa Szymbosrka, tradução de Piotr Kilanowski e Eneida Fabre, Belo Horizonte: Editora Âyiné (coleção Das Andere #10), 1a. edição (2018), brochura 12x18 cm., 124 págs., ISBN: 978-85-92649-42-5
"Riminhas para crianças grandes", Wislawa Szymbosrka, tradução de Piotr Kilanowski e Eneida Fabre, Belo Horizonte: Editora Âyiné (coleção Das Andere #10), 1a. edição (2018), brochura 12x18 cm., 124 págs., ISBN: 978-85-92649-42-5
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