domingo, 15 de dezembro de 2019

iluminuras

Vanderley Mendonça é um agitador cultural, um miglior fabbro nascido no Ceará, que navegou como Odisseu por várias cidades deste orbe e vive hoje em São Paulo; que por vezes mostra suas habilidades como designer, noutras como tradutor, noutras como poeta ou jornalista, e também como editor (de sua já icônica Demônio Negro). Já registrei vários livros editados por ele (Lustra, de Erza Pound; Poesia vista, e 99 poemas, do Brossa; Poemóbiles, de Augusto de Campos e Júlio Plaza, entre outros). Esse "Iluminuras" é o primeiro volume dele que li e tenho a chance de resenhar aqui. São dois conjuntos de poemas. O primeiro, correspondendo a um terço do volume, são de cousas dele mesmo; o segundo de traduções feitas por ele de invenções engendradas por outras pessoas. Seus poemas são sempre curtos, sintetizam ideias, reflexões, vivências, formas de pensar a vida. Em alguns destes poemas ele registra sua interlocução com outros poetas: o português Ernesto M. de Melo e Castro, o paulistano Augusto de Campos, o santista Marcelo Ariel, talvez a paulista Pagu. Ele conversa também com uma musa diáfana, com a cidade de São Paulo, com a língua catalã, na qual imaginou vários poemas, bem antes de transcrevê-los em português. O segundo conjunto do livro corresponde a fragmentos, pequenas epifanias, estalos poéticos, partes de poemas que ele chama de Iluminuras (" ... aquelas partes dos poemas que me guiaram ao longo da vida como leitor e que me dão o dom de luzir quando falo delas", explica ele mesmo). Estas Iluminuras são de aproximadamente trinta autores diferentes, pessoas que viveram num longo arco de tempo, desde o distante século XII até este nosso terrível século XXI, autores que lhe são particularmente caros. São propostas tradutórias do provençal, do catalão, do francês, do italiano, do alemão, do inglês, do polonês. Esses fragmentos provocam o leitor a voltar à primeira seção do volume, a reler os poemas dele, buscar neles a inspiração e o engenho original. Apesar de ser um volume muito curto, coisa de cento e poucas páginas, fiquei várias semanas com ele à mão, retomando uma ou outra passagem, comparando com as outras coisas que estava lendo (cousas que, ai de mim, teimo em não terminar e registrar aqui, covarde que sou). Transcrever todos os poemas aqui não posso, mas deixo sim um fragmento que agora sei de cor: "Não há arte sem vida, disseste. / Por que a arte é contra a morte. / A arte reinventa a vida / para pensar o novo de novo virar começo. (...)". Sim, não há arte sem vida; morrer é fácil, viver é difícil. Evoé Mendonça, Evoé. Vamos em frente. Vale! 
Registro #1477 (poesias #122) 
[início: 11/11/2019 - fim: 15/12/2019]
"Iluminuras", Vanderley Mendonça, São Paulo: Editora Patuá, 1a. edição (2012), brochura 14x21 cm., 138 págs., ISBN: 978-85-64308-86-6

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