domingo, 3 de maio de 2020

uma antologia bêbada

Nesse volume estão reunidas 17 narrativas produzidas em homenagem a um tradicional bar paulista, a Mercearia São Pedro, fundada no início dos anos 1970. Publicado em 2004 e organizado por Joca Reiners Terron, "Uma antologia bêbada: fábulas da mercearia" tem histórias assinadas por Andréa del Fuego, André Sant'Anna, Antonio Prata, Bruno Zeni, Chico Mattoso, Clara Averbuck, Índigo, Ivana Arruda Leite, Joca Reiners Terron, José Alberto Bombig, Marcelino Freire, Mário Bortolotto, Matthew Shirts, Nelson de Oliveira, Reinaldo Moraes, Ronaldo Bressane e Xico Sá. Nem todos eram exatamente conhecidos como escritores em 2004 (talvez só os mais vividos deste grupo: a Ivana, o Reinaldo e o Matthew, mas eu não conheço bem as 17 múltiplas biografias para pontificar aqui). Já, hoje, pode-se dizer que todos eles têm uma carreira literária respeitável (na medida em que isso é possível em um país desgraçado como o Brasil). Com a exceção do conto de Reinaldo Moraes, bem mais longo (e onde ele faz uma espécie de censo de frequentadores da Mercearia), todos os demais são registros curtos e variados do gênero. Quase todos gravitam o que título e subtítulo prometem: fábulas sobre o mundo da noite, dos bares, dos excessos, da bebida. Se pertencem ao mundo da ficção, da invenção, certamente foram inspirados em experiências reais vivenciadas por cada um deles em bares, mas não necessariamente ali. Os contos têm um quê de nostalgia (seja da geografia daquele bairro - a Vila Madalena; seja de uma certa atmosfera social e política da época). Mesmo que lidos agora, quando inegavelmente todos nos últimos três lustros embrutecemos um bocado, encontramos neles alegria de viver, em narrativas entre divertidas e saudavelmente cínicas. Bacana. Agora um adendo algo mais pessoal: Nunca fui um frequentador assíduo da "Merça", como agora o povo paulista parece usar para referir-se ao bar  Quando era estudante na USP, no início dos anos 1980, preferia o icônico Bar do Bilú, o musical Café Paris ou o teatral Rei das batidas, ali no Butantã; depois, quando passei a morar na Rua dos Franceses, frequentava ou os botecos do Bixiga ou os do centro da cidade. Entretanto, fiz minhas incursões também na Mercearia, usualmente com o Samuca, que gostava de sair da USP e me deixar na Doutor Arnaldo sem pegar um único farol fechado, fazendo só um necessário pit-stop ali (sim, naqueles dias era possível fazer uns 10 Km assim, sem muito trânsito, bem como beber e dirigir, além de fumar em qualquer bar ou restaurante). Depois de 1994, quando virei gáucho e só turistava em São Paulo, ia lá às vezes com o mesmo Samuca ou o Renato Cohen e o Luiz Melo, para lá eventualmente encontrar o Marcos Fernandes, o Luciano Bittencourt, a Ana e a Ivonete, mas isso, agora, no meio deste baile macabro, já parece fazer parte de um mundo perdido, de lenda, borrado, inventado. Alas! Vamos em frente. Vale! 
Registro #1423 (contos #175)
[início - fim: 25/04/2020]
"Uma antologia bêbada: fábulas da mercearia", Joca Reiners Terron (organização) [Andréa del Fuego, André Sant'Anna, Antonio Prata, Bruno Zeni, Chico Mattoso, Clara Averbuck, Índigo (Ana Cristina Ayer de Oliveira), Ivana Arruda Leite, José Alberto Bombig, Marcelino Freire, Mário Bortolotto, Matthew Shirts, Nelson de Oliveira, Reinaldo Moraes, Ronaldo Bressane, Xico Sá], São Paulo: Ciência do Acidente, 1a. edição (2004), brochura 14x21 cm., 184 págs., sem ISBN

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