Li este livro ainda em agosto, marquei aqui no blog uma entrada para ele mas não escrevi nada na época, pois ainda estava impressionado com o final do livro. O tempo passou, o livro ficou ali na prateleira me olhando e só agora (estou já no início de setembro) resolvi escrever algo. Sou um dono de gatos e estou exatamente com um no colo agora, enquanto escrevo. Ao menos dois deles tem por hábito tentar um colo quando fico muito tempo no computador. Talvez por conta disto tenha gostado deste livro imediatamente. Mas deixe eu falar do livro que li, não de meus gatos reais. Natsume Soseki foi um escritor japonês bastante respeitado que nasceu em meados da década de 1860, no século XIX. Ele foi durante alguns anos professor catedrático de crítica literária e de literatura inglesa na Universidade de Tokyo, mas optou por tornar-se professor nas escolas secundárias após a publicação de seus primeiros romances. Os especialistas o comparam a Dickens, por suas afinidades na descrição ficional das pessoas de seu tempo, ao mesmo tempo interpretando-as como cidadãos e criticando-as em seus convencionalismos. Outros o comparam a nosso Machado de Assis, também por sua vez um tributário de Dickens, mas isto é assunto para os especialistas, não para mim. "Eu sou um gato" foi publicado inicialmente em forma seriada e depois em livro em 1905, mais de cem anos já, e foi desde o início um sucesso de público e de crítica. Ele é escrito na primeira pessoa, mas esta voz pertence a um gato. Segundo é citado na guardas do livro este artifício nunca havia sido utilizado na alta literatura japonesa antes, o que provocou muita polêmica. É um livro delicioso de se ler. O dono do gato é um professor de escola secundária que tem pretensões intelectuais mas é artificial e vazio como somente as pessoas tristes sabem ser. O livro tem onze longos capítulos. Cada um se desenvolve em torno de um tema, em geral banais, introduzidos no enredo como as situações bobas que acabam chamando a atenção de um gato real, tão distraídos quando querem ser. As passagens são de fato interpretadas sempre pelo humor particular do gato, mas suas reflexões são sarcásticas demais para que não nos identifiquemos com ele de pronto. O professor/dono do gato recebe com regularidade um grupo singular de amigos: um esteta pernóstico e mentiroso, um ex-aluno com ambições literárias, um filósofo já alquebrado, uma sobrinha casadoira mas sábia, alguns vizinhos mais ricos e mais pretensiosos do que ele. Até um ladrão aparece na trama, mas apenas o gato o vê e sabe de sua identidade. O gato vagueia pelas casas vizinhas, ouve comentários sobre seu dono, lamenta que este seja tão obtuso e tolo, mas não tem como se comunicar com ele. Na família do professor só há mulheres (sua esposa e três filhas pequenas). Há passagens muito divertidas: em uma ele e sua mulher discutem sobre as dificuldades da vida e os projetos para o futuro; noutra o professor tem problemas com os alunos de uma escola que fica ao lado de sua casa; noutro ainda ele dá conselhos para o ex-aluno, que pretende ou terminar sua tese doutoral (é um químico) ou casar-se com uma prometida que ainda mora em sua cidade natal. Há um fina ironia contra as convenções do mundo universitário. Ele fala muito de ciência e dos avanços tecnológicos de sua época. Os sucessos da recente guerra russo-japonesa são louvados acidamente pelo gato/narrador. As discussões do professor com seu grupo de amigos também são divertidíssimas. Em uma oportunidade eles vão a um banho coletivo ou sauna e têm conversas bastante espirituosas sobre o asseio de cada um e suas técnicas de ablução. O livro termina com a descrição da morte de seu narrador, o gato. Acredito que é escrito com um lirismo que emociona mesmo quem não gosta ou não se identifica com gatos. Muito divertido. Recomendo sem medo.
"Eu sou um gato", Natsume Soseki, tradução de Jefferson José Teixeira, editora Estação Liberdade, 1a. edição (2008) brochura 16x23cm, 486 pág. ISBN: 978-85-7448-138-8
2 comentários:
Esse livro é ótimo, adoro gatos *-*
Eu estou amando esse livro! O humor do gato é tão gostoso de ler além de que adoro gatos também hihi Fico triste por imaginar que o nosso gatinho sem nome irá morrer TT
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