Don Ronai Rocha é um sujeito de multimeios e realmente cativa os viventes com sua conversa rica, sua prosa bem lapidada, sua generosidade e sua curiosidade ampla. Semanas atrás ele publicou “Ensino de Filosofia e Currículo” mas o lançamento oficial em Santa Maria será exatamente hoje, dia do professor, 15 de outubro. Preciso fazer um parênteses aqui. Leio meus livrinhos e vou resenhando neste blog exatamente na ordem cronológia que termino de lê-los (eu começo e abandono muitos outros pelo tempo e espaço.) Acontece que ler é mais rápido que resenhar. Pelas minhas contas eu deveria resenhar este do Ronai somente daqui a um mês, depois de um Ándritch, de um McEwan, de um Toscana, de um Pedrosa, de dois Montalbán e de um Singer. Mas achei a coincidência em terminar de lê-lo logo agora era rara demais para desprezá-la e vou encaixar esta resenha aqui. Devolvendo uma gentileza antiga eu digo: o Ronai, como Irene, não precisa pedir licença. Mas vamos ao livro. O objetivo de “Ensino de Filosofia e Currículo” é exatamente contribuir para o debate sobre a inserção da filosofia no currículo do ensino médio. Apesar de ser lei, há muita controvérsia sobre qual filosofia deve ser ensinada e muito mais controvérsia ainda sobre como estes conteúdos devem ser trabalhados nas escolas. Ronai nos oferece a força de sua experiência e seus argumentos junto com sua prosa delicada. O livro é bem escrito e faz um uso pouco corriqueiro de precisas metáforas, sem cair no lugar comum e na redução rasteira. Ele detalha bem os documentos do ministério da educação que orientam o ensino no nível médio por isto ao menos estas partes do livro (uns 30% eu acho) poderiam ser lidas por qualquer professor, de qualquer disciplina, com idêntico aproveitamento. Os cinco primeiros capítulos podem ser lidos separadamente, mas estão organizados em um progressivo grau de complexidade, sendo sempre mais técnicos. Os três últimos capítulos me parecem descolados destes cinco primeiros. Neles ele me parece tentar definir uma fronteira para os usos da filosofia em outras áreas, como na psicologia da infância (cap.6), nas demais disciplinas ensinadas no nível médio (cap.7) e na linguística (cap.8). Me parecem algo como exemplos de aplicação do que havia sido levantado e proposto antes. Temas que poderiam eventualmente serem introduzidos pelo professor de filosofia em suas aulas nas escolas. Eu, que sou o menor dos anões desta paróquia, estou bem longe de ser um entendido nesta área, mas do ponto de vista literário acho que teria sido melhor encaixar ao menos parte deste material nos capítulos anteriores, ou utilizá-los como apêndices ao corpo principal do texto (o final do capítulo 8 não, pois é onde as idéias do livro se encontram em um fechamento.) Bom. Aprendi um bocado neste livro, principalmente sobre didática e sobre a história do ensino no Brasil. As vezes eu acho que o processo educativo brasileiro é como um ensaio destrutivo da mecânica ou da física: após obtermos informações sobre um corpo de prova nós o deixamos destruído. Aquela informação será útil para outros sistemas, outros materiais, outros modelos e teorias, mas aquele corpo de prova em particular foi destruído no processo. Por vezes muitas experiências pedagógicas e didáticas, notadamente no Brasil, tem o mesmo grau de preocupação com seus grupos de estudo e de controle, suas cobaias, seus corpos de prova, pois no final são abandonados ágrafos, néscios e sandeus ao sair da escola. (Estes dois últimos parágrafos são meus. Don Ronai não disse nada tão indelicado no livro dele, sou eu que sou o mau humorado de plantão que estou a pensar um tanto aqui, após ler seu livro.) Bem. Na quarta capa do livro é dito que Ronai argumenta em favor do ensino de Filosofia. Mais do que isto acredito que seu livro sustenta argumentações várias em favor do ensino adequado de todas as disciplinas que sabemos serem caras ao homem. Farei propaganda deste livro sem medo, sem temor, (nec spe, nec metu) seguro que qualquer professor tem muito a ganhar profissional e pessoalmente com as reflexões de don Ronai Rocha.
Ensino de Filosofia e Currículo, Ronai Pires da Rocha, editora Vozes, 1a. edição (2008), brochura 15x24cm, 208 págs. ISBN: 978-85-326-3711-6
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