quinta-feira, 2 de outubro de 2008

rituais

Rituais é um bom romance. São três partes simétricas que se movimentam no tempo, primeiro estamos em 1963, voltamos para 1953 e por fim avançamos até 1973. Estamos a seguir um sujeito cuja vida é influenciada por duas pessoas que nunca se conheceram, pai e filho na verdade. Este sujeito, Inni Wintrop, é quem faz a conexão entre Arnold e Phillip Taads. O livro discute o quanto de um pai há num filho: será que genética é mesmo destino? Discute-se também sobre o quanto podemos ser cerebrais e frios mesmo sobre os assuntos mais pessoais e humanos. Além das simetrias de sempre há também o contraste entre a planície e a montanha, entre o mar e a neve, caros ao autor. Uma Holanda quase desconhecida para mim aparece neste livro. Também aprendi um tanto nas descrições do dia a dia do povo; da tradição e a religião; do hábito; da unificação européia; do papel do sexo, do amor e da morte na vida; da linguagem dura e áspera; do enfrentamento com a natureza. Nooteboom também me surpreende por juntar temas que me são caros há anos: Vermeer, gravuras japonesas, Espanha, mitologias. Há um erro absurdo de tradução, onde uma citação de um livro de Yasunari Kawabata, prêmio Nobel de 1968, que deveria ser algo como “mil tsurus”, “mil origames”, “mil garças”, se transformou em “mil guindastes”. Você está ali, totalmente budista, lendo sobre a cerimônia do chá, sobre os diferentes modelos de tijelas japonesas e de repente aparece um trator, um “crane” mal traduzido, o que significa que o livro foi traduzido do holandês para o inglês e depois para o português. Paciência. É mesmo um romance pequeno, duzentas e poucas páginas, mas muito bom de se ler e instigante mesmo. Lembrei por fim da Sibele e do Koji, que me ensinaram um dia como se deve estudar algo sobre o qual queremos entender mais: com informações precisas mas também com paixão. Entretanto, a idéia de que nem tudo pode ser aprendido nos livros paira sobre este, e isto leva um atento leitor a pensar.
"Rituais”, Cees Nooteboom, tradução de Irene Cubric, editora Nova Fronteira, 1a. edição (1995), brochura 14x21cm, 225 págs. ISBN: 85-209-0668-0

Nenhum comentário: