Este romance de Inês Pedrosa inclui várias citações de sermões do padre Antônio Vieira. São tantos e tão extensos que confesso parei de lê-los depois de um terço do romance propriamente dito. Depois de terminado o romance voltei às páginas iniciais e tentei ler apenas as citações isoladamente, mas novamente abandonei o projeto. Não sei dizer se a leitura dos trechos (sempre em negrito) ajudam ou atrapalham. Para mim pareciam escolhos abandonados no meio do rio de palavras do romance. Talvez seja um truque literário, uma experiência qualquer. Paciência. Um dia destes vou direto à fonte: tenho dois volumes robustos com os sermões completos de Vieira e em uma época mais cálida me concentrarei o suficiente para lê-los. Já sobre o romance posso falar um tanto. Ele é dividido em duas partes mais ou menos simétricas. Uma moça portuguesa, professora de literatura em uma universidade lisboeta, teve uma experiência amorosa limite. Primeiro apaixonou-se por um forasteiro durante um congresso acadêmico (o sujeito era um professor brasileiro). Nada absurdo. Um tempo depois decide visitá-lo na Bahia sem tê-lo avisado previamente, mas chega a encontrá-lo justamente no meio de uma discussão boba de bar com um desconhecido e acaba levando um tiro que lhe tira a visão (seu amante morre sem ao menos ter entendido como ela apareceu à sua frente naquele dia.) Anos depois ela novamente em um impulso decide voltar à Bahia, um tanto para purgar este amor perdido, um tanto para descobrir mais sobre a vida e os textos do padre Antônio Vieira (que era o objeto de pesquisa de ambos afinal de contas.) Nesta viagem ela se faz acompanhar por um amigo que quer tornar-se mais que amigo, sendo continuamente desestimulado por ela. De qualquer forma ele a acompanha (um misto de sacrifício pessoal e tentativa de tornar-se credor de seus carinhos.) Em terras brasileiras ela descobre mais que detalhes da vida do padre Vieira: descobre o sincretismo religioso, o candomblé, outras formas de amor, outras formas de sedução, outras formas de viver. Esqueçe mesmo que é cega e tem lá suas limitações físicas. O amor é mesmo primo da morte e da morte vencedor (sempre lembro do Drummond.) Seguindo a trilha de Vieira por Salvador e depois por Alcântara (no Maranhão) ela se descobre uma pessoa bem diferente do que era em Portugal. Progressivamente se afasta da terra natal, dos contatos acadêmicos, da vida universitária (curioso como li livros onde a vida acadêmica em universidades servem de plano de fundo para algum enredo.) Achei trivial demais a idéia piegas de ter um filho brasileiro no final. Mas como demonstrar o amor bruto ao Brasil que emana do livro? Os textos do Vieira ajudam ou atrapalham? Nunca vou saber, mas é boa escritora esta portuguesa. Agora é hora de voltar à Espanha, voltar aos últimos livros de Montalbán que trouxe na viagem, completar o ciclo Carvalho. Veremos.
A eternidade e o desejo, Inês Pedrosa, editora Alfaguara, 1a. edição (2008), brochura 15x23cm, 177 págs. ISBN: 978-85-60281-473
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