Como eu conheço pouco a literatura mexicana (Carlos Fuentes, Octávio Paz e David Toscana são os únicos que me vêm a mente) e nada da literatura mexicana feminina resolvi ler este livro (ele estava de moda por conta de um filme homônimo). Publicado originalmente em 1985 e escrito por Ángeles Mastretta é um livro calcado na história do México, nos conturbados anos 1930 mexicanos (uma sucessão de escaramuças entre generais e grandes proprietários, que vai desembocar na formação do partido revolucionário institucional - este nome é uma piada pronta, como diria o José Simão - partido que ficará no poder no México por uns setenta anos). A história é contada por uma jovem (Catalina) que se casa por imposição da família com um ambicioso general (Andrés Ascencio). Trata-se de uma metáfora óbvia das possibilidades mexicanas à época: o frescor e juventude da moça (um possível futuro mexicano) em contraposição à brutalidade e rigidez do general (o passado mexicano). O general sobe na hierarquia política mexicana, torna-se governador de uma província e chega a ser candidato possível à presidência do país. Mas apesar de ser muito hábil politicamente acaba perdendo lentamente seu naco de poder real, sendo substituído nos grandes círculos do poder por seus maiores inimigos (outrora amigos, claro). A moça em algum momento se envolve com um rapaz idealista, por conta de suas preocupações sociais e seu trabalho de caridade. Óbvio que a partir deste intercurso o destino do sujeito não será nada agradável. Uma mulher sabe ser vingativa, já aprendemos com os gregos. É um livro onde o olhar feminino faz o leitor refletir sobre a política, as questões de poder, as intrigas e o pragmatismo inerente destas atividades. A única diferença aparente entre o México e o Brasil daqueles dias é que naquele os vis senhores se intitulavam generais enquanto neste os vis senhores se intitulavam coronéis (para meu juízo o sistema continua funcionando aqui, com o atual governo de plantão comprando votos e consciências sem o menor pudor - eu diria que ainda há tempo para desmascarar este pateta chamado lula, mas já é pedir demais alguma inteligência do miserável povo brasileiro). Há algo neste livro que lembra a algumas passagens do "Travessuras da menina má", do Vargas Llosa (mas este foi escrito muitos anos depois, ulalá), além de uma passagem que lembra Morgana enfetiçando Merlin, no mito arturiano (gosto destas citações algo cifradas em um livro). É um livro bom de ler, mas o filme eu jamais vou ver. [início 24/11/2008 - fim 27/11/2008]
"Arranca-me a vida", Ángeles Mastretta, tradução de Ledusha Spinardi, editora Objetiva (1a. edição) 2003, brochura 14x21, 286 págs., ISBN: 978-85-7302-576-X
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