Neste livro há 51 notas curtas, parte de um conjunto originalmente preparado para um blog diário, distribuído para vários sites e jornais, produzidas pelo jornalista Marcos Eizerik em 2003 durante sua estada em Barcelona, na Espanha. Não acompanhei o blog quando ele foi publicado originalmente, talvez tenha sido uma experiência boa, mas transpostas para um livro, a meu juízo, ele perde muito de sua força. Claro, ele escolheu as postagens que são menos datadas, mas, mesmo assim, o que nos é apresentado neste livro é mais daquela Barcelona chapa-branca, artificial, turística (e que o estado espanhol e a Catalunha vendem bem há anos), mas que não tem muito a ver com a realidade daquela cidade. A Barcelona profunda, que certamente ele conheceu ao morar lá durante um ano, aparece apenas em vislumbres em seu texto, e isto é uma pena. Barcelona é uma cidade que sabe ser cruel, como qualquer cidade grande e complexa sabe ser. Isto não é um problema, mas a glamurização que vaza das páginas de Marcos não ajuda o leitor a conhecer esta complexidade melhor. Acho que livros que falem sobre uma cidade devem ter o tom que Robert Hughes encontrou em "Barcelona: a grande feiticeira" por exemplo, onde ele é capaz de cantar as maravilhas da cidade sem deixar de contextualizar suas muitas contradições e defeitos (que afinal todas as cidades, todas as aldeias, todos os bairros, todas as cavernas, têm, e que aliás só se identificam por terem ser defeitos particulares). A meu juízo se alguém quer conhecer Barcelona deve ir a Barcelona, andar pelas ruas, pelo metro, andar a pé, falar com o povo e ir, lentamente, separando o "plan" turístico do "plan" cotidiano. É fácil ter experiências deste tipo. Um sujeito pode pegar um metro qualquer e deixar-se ir até as estações mais afastadas do centro. Lentamente o público vai mudar. Seguro que sim. Mudando o foco um tanto e pensando apenas na forma de apresentação do livro, Marcos usa em excesso fórmulas e bordões que cansam o leitor. As variações do "O caro senhor, cara senhora", usado vezes sem fim por Nelson Rodrigues, à época num falso desleixo que ele usava em suas crônicas diárias, décadas atrás, mais incomodam antes de agradar. José Roberto Torero, santista e jornalista dos bons, faz um generoso prefácio. Concordo com os argumentos que ele usa para apoiar o livro, principalmente com o que há de ficcional nele (há muito de invenção no livro). Nestes trechos Eizerik demonstra que é um bom escritor. [início - fim 28/01/2009]
"Barcelona: um ano com 365 dias", Marcos Eizerik, editora AGE (1a. edição) 2008, brochura 14x21, 160 págs. ISBN: 978-85-7497-399-9
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