Ganhei este livro de presente da Helga. Comecei a ler no dia do aniversário do Joyce, 02 de fevereiro, um estival dia neste ano. "The ginger man" foi escrito por um americano descendente de irlandeses chamado James Patrick Donleavy e foi publicado em 1955. É um dos livros mais desavergonhados que eu já li, mas ao mesmo tempo não há nada nele que um brasileiro não ouça ou até mesmo fale desde a juventude (eu diria até que os infantes são igualmente desbocados, mas talvez eu esteja exagerando). O livro foi proibido na Irlanda e nos Estados Unidos durante anos. Acompanhamos as aventuras de um jovem americano (Sebastian Dangerfield) que está radicado na pobre Irlanda do pós segunda grande guerra, estudando direito no centenário Trinity College. A vida boêmia, descompromissada, devassa e torpe afinal de contas, tanto dele como a de seus colegas de escola é contada em um ritmo que prende o fôlego do leitor. Não há limites nas trapaças do sujeito. Ele mente, engana, ilude, distorce, falseia, foge, trai, agride, rouba, corrompe como se estivesse fazendo suas abluções matinais, sem um mínimo de culpa ou consciência moral. Enfim, ele é um trambiqueiro de primeira, mentiroso, beberrão, falso, mulherengo, que se destrói e destrói a todos a seu redor. É um livro divertido, cheio de perversidades e pornografias mil, mas que deixa o leitor com um travo na boca, pois é mesmo um livro escrito para ser engraçado, mas que te deixa triste no final. A história se passa em uma Irlanda dos anos 1950, ainda bem pobre, atrasada, muito influenciada pela igreja católica e amargurada pelo passado de opressão inglesa. Os paralelos com o Ulysses de Joyce são óbvios, esquemáticos até: Sebastian Dangerfield / Stephen Dedalus; Mary / Marion; Kenneth / Kinch; e por aí vai. Nada que desabone o livro. Gostei de ler, mas o final é enigmático, abrupto. Não há moral ou juízo de valor, o livro simplesmente acaba e o leitor fica a pensar se a vida é assim mesmo: uma sucessão de azares, escolhas, que te levam para um lugar qualquer, sem remissão. Cabe aqui um registro final: a edição é realmente primorosa. Que livro bem editado. Trata-se de um verdadeiro tesouro. [início 02/02/2009 - fim 13/02/2009]
"El hombre de mazapán", J.P. Donleavy, tradução de Marta Garcia Orozco, editora Edhasa Libreria (1a. edição) 2008, capa dura 15x23.5, 442 págs. ISBN: 978-84-435-00993-5
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