Publicado originalmente por Le Clézio em 1985, "O caçador de tesouros" é um livro onde pode-se dizer que o mar é um personagem que espreita a história, pacientemente aguardando seus momentos para atuar. A ação principal começa e termina no lado oeste das Ilhas Maurício, em uma região chamada Tamarindo, próxima a um rio chamado Negro. Todavia a Ilha Rodrigues, mais ao sudoeste e as demais ilhas do arquipélado de Mascarenhas também fazem parte das peripécias do narrador, um sujeito chamado Alexis L'Estang. Seus pai era um rico plantador de cana de açucar na região do Rio Negro, mas sua inabilidade comercial e os sonhos mirabolantes de eletrificação da região, associados a uma tempestade tropical o levam a completa ruína. Da ruína a morte do pai passa-se pouco tempo. Alexis, sua irmã e sua mãe, se mudam para a cidade e vivem miseravelmente. Os planos de serem enviados à França, de estudar nos melhores colégios de lá e voltarem para administrar as plantações da família tornan-se pó. Um tio, aparentemente mais pragmático e inescrupuloso, agora único rico comerciante da região,os mantêm sob vigilância discreta. A infância de Alexis foi marcada pelas narrações de seu pai de um tesouro magnífico que poderia ser encontrado na vizinha Ilha Rodrigues. Com o tempo ele abandona a família, embarca em um navio e ruma para lá, sistematicamente procurando marcas e sinais da presença dos piratas em uma região chamada Baía dos Ingleses. Alexis passa por todos os estágios da febre do ouro, ora quase desistindo, ora sobrevivendo miraculosamente a desastres, ora se iludindo com vestígios abandonados por outros exploradores. Se envolve com uma nativa da ilha, descendente de escravos que fugiram para as inacessíveis montanhas que circundam a região. Com o início da primeira grande guerra, Alexis se alista, não exatamente por patriotismo, mas também por despreendimento. Após os anos nos campos sangrentos da França volta a sua ocupação maravilhosa, a de caçador de um tesouro que ele sabe no fundo não existir. Após mais um verão explorando a baía em busca do ouro abandona tudo e volta para a Ilha Maurício. Assume um cargo de capataz nas fazendas de um primo seu, filho daquele tio inescrupuloso. O ritmo do livro se acelera, ele percebe rapidamente que aquela vida é tão inútil quanto aquela em que buscava tesouros nas areias de uma baía distante. A região explode em conflitos entre os trabalhadores e os senhores das terras. A morte graça como nos campos da França. Alexis destrói os últimos vestígios de seu sonho pelo ouro e embarca em um navio, rumo ao mar, vasto e desconhecido. Este é um livro terrível, onde a decadência e a degradação corroem lentamente os sonhos e os desejos dos personagens. O mundo colonial e o artificialismo dos sonhos herdados só são amenizados pela beleza cruel do deserto e do mar, paisagens naturais que pouco guardam da presença e dos trabalhos dos homens. [início 22/12/2009 - fim 26/12/2009]
"O caçador de tesouros", J.M.G. Le Clézio, tradução de Ernesto Sampaio, editora Assírio & Alvin, 1a. edição (1994), brochura 13,5x21 cm, 307 págs. ISBN: 972-37-0356-4
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