quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

o complexo de portnoy

"Complexo de Portnoy" é um dos livros mais divertidos que já li. Em meados dos anos 1980 li uma edição surrada que tomei emprestado. Quando vi esta edição (comemorativa dos 35 anos do lançamento original) achei que estava na hora de voltar as aventuras de Alexander Portnoy. Aquilo que Philip Roth conta como autobiografia em "The facts" (que li noutro dia em uma edição espanhola, já resenhada aqui) é trabalhado ficcionalmente em "Complexo de Portnoy". Quarto livro de Roth e publicado em 1969, provocou muita discussão dentro da comunidade judaica e curiosidade do público "goy", garantindo a Roth, nos seus trinta e poucos anos, reconhecimento como um dos grandes escritores americanos de sua geração. Portnoy, um advogado de sucesso, 33 anos, funcionário importante da prefeitura de Nova Iorque, conta em suas sessões de análise (nas quais nada sabemos do analista) as memórias que o incomodam. Ele descreve a si mesmo como um retardado emocional. O livro é dividido em seis partes (icônicas daquilo que se entende como tipicamente judaicas). As três primeiras partes falam de um Portnoy jovem e adolescente, sua relação com a família, com a masturbação, suas crises religiosas, sua relação com a escola e os esportes. Mesmo se aceitando que hoje em dia ninguém se escandaliza tanto com descrições detalhadas de como o sexo é central na vida de cada um, o texto continua sendo realmente divertido de se ler. Esta parte inicial toma só um terço do livro. Em algum ponto no final da adolescência, após uma operação delicada e o medo da morte, Portnoy passa por uma metamorfose e o sexo torna-se de fato o centro explosivo de sua vida. De certa maneira ele usa as experiências sexuais como caminho para uma libertação pessoal (da família, dos amigos, das regras sociais). Ele abandona de vez a sinagoga, passa a ter uma vida sexual regular, se envolvendo com várias mulheres nas universidades que frequenta. Quando encontra uma namorada culta e inteligente descobre que ela é em geral reprimida sexualmente ou beata demais; quando encontra uma mulher boa de cama, liberada, não consegue dividir intelectualmente nenhuma experiência mais sofisticada. Portnoy tenta resolver seu Édipo seduzindo uma moça judia sardenta parecida com sua mãe; após brigar com sua namorada liberal, com a qual tem as experiências sexuais mais divertidas do livro, viaja para Israel em busca de algum tipo de iluminação, mas descobre que os problemas são dele, não dos outros. Em Israel tudo é desconhecido, reencontra uma amiga em um kibutz, mas descobre-se algo impotente, como se estivesse punindo a si mesmo por suas estrepolias sexuais. Na última sessão de análise mostra sua paranóia uma vez mais e dá um grito que lembra o Joyce do Finnegans Wake. Após isto o analista (Dr. Spielvogel) diz finalmente algo como "Agora podemos começar a trabalhar, sem mais teatro". Muito divertido mesmo. [início 14/12/2009 - fim 17/12/2009]
"O complexo de Portnoy", Philip Roth, tradução de Paulo Henriques Britto, editora Companhia das Letras , 1a. edição (2004), brochura 14x21 cm, 261 págs. ISBN: 978-85-359-0589-2

Um comentário:

Anônimo disse...

Acabei de terminar de ler O Complexo de Portnoy, e, sem dúvidas, o livro entrou para a lista dos meus favoritos. Já o final, que foi entregue sem aviso (o que pode acabar incomodando alguns), fez-me ficar intrigado. Creio que seja mais a piada final mesmo. xD