Filoctetes (Φιλοkτήτης) é uma peça que tem 2.500 anos e ainda é capaz de impressionar um sujeito. Este livro publicado recentemente pela editora 34 é verdadeiramente completo. Além da peça de Sófocles (em edição bilíngue) encontramos caudalosas notas, sugestões bibliográficas e um generoso posfácio assinado pelo tradutor, Trajano Vieira. Além disto encontramos a reprodução de um poderoso ensaio de Edmundo Wilson, um crítico norte-americano (de quem me lembro ter lido com prazer "Memórias do condado Hecate", mas esta é outra história). Lendo o livro aprendi que os três grandes poetas trágicos da literatura grega clássica (Ésquilo, Eurípides e Sófocles) produziram versões da história de Filoctetes. As versões de Ésquilo e Eurípides se perderam na poeira do tempo. Já a versão de Sófocles sobreviveu aos perigos e chegou até nós (curiosamente uma das solitárias 7 dentre as 123 peças que ele teria escrito). Aqueles familiarizados com os mitos gregos hão de lembrar da menção ao herói grego que fora picado por uma cobra e abandonado pelos colegas em uma ilha deserta. Após dez anos de infrutífero cerco, a queda de Tróia necessariamente depende da volta deste sujeito à frente de batalha, empunhando a arma (um arco invencível) que um dia pertenceu ao poderoso Hércules. A peça se inicia com as instruções que Odisseu (Ulysses) dá a Neoptólemo (filho de Aquiles), com o intuito de resgatar as armas invencíveis de Filoctetes. Odisseu fora um dos responsáveis pelo abandono deste e na prática pretende enganá-lo uma vez mais e apoderar-se das armas. Ele convence Neoptólemo da necessidade deste subterfúgio, fazendo-o mentir, dizendo-se perseguido pelos irmãos Agamemnon e Menelau que, conjuntamente com Odisseu, aprisionaram Filoctetes na ilha. Aliviado, inicialmente Filoctetes fica feliz em poder voltar a sua cidade, mas quando descobre que o plano é levá-lo à força até Tróia ele se revolta e não aceita mais sair da ilha, resignando-se a continuar ali em seu imerecido sofrimento. Odisseu ainda tenta convencer Neoptólemo a ficar apenas com as armas de Filoctetes e rumarem para Tróia, mas este - mostrando-se valoroso e digno - tenta uma vez mais convencer Filoctetes da necessidade de sua volta ao convívio dos aqueus, apesar da traição e dos sofrimentos que padeceu. A peça se resolve através daquele procedimento conhecido como "deus ex machina", muito utilizado no teatro grego, no qual, de forma deliberadamente artificial, um personagem (no caso o próprio deus Hércules, dono original das armas invencíveis de Filoctetes) é introduzido na trama para resolver a situação. Hércules convence Filoctetes a voltar a guerra e ajudar os gregos a derrotar os troianos. No início a leitura é penosa, mas aos poucos nos acostumamos com o ritmo. É um texto bastante interessante. Gostaria de ter a chance de vê-lo representado um dia. [início 11/12/2009 - fim 22/12/2009]
"Filoctetes", Sófocles, tradução de Trajano Vieira, editora 34, 1a. edição (2009), brochura 14x21 cm, 216 págs. ISBN: 978-85-7326-417-3
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