domingo, 3 de janeiro de 2010

os espiões

Leio com alguma regularidade as crônicas de Luis Fernando Verissimo publicadas em jornais, mas não sou um entusiasta do que ele faz (mas concordo que comparado com a maioria dos que publicam crônicas em jornais hoje em dia seu texto é muito superior). Ele de certo sabe contar uma história curta e deixar nelas sua marca de autor já experimentado, capitão de longo curso. Em "Os espiões" ele produz uma narrativa mais longa (ma non troppo, são pouco menos de 150 páginas com uma formatação bem generosa). Há frases de efeito muito boas e situações muito divertidas são contadas. Um grupo de sujeitos, algo deslocados em suas atividades profissionais, ficam obcecados com a verossimilhança ou não de uma história que está sendo contada em um livro (um deles trabalha em uma editora que recebeu parte dos originais de um romance onde uma história de amor, traição e morte é contada). Acreditando terem encontrado na ficção do livro vários crimes já consumados e trambém uma situação de perigo real e iminente à vida da própria escritora, decidem investigar o causo. Como todos são algo patetas, a partir daí uma sucessão de erros, confusões e mal interpretações da realidade acontecem, mas o desfecho é previsível, pois desde o início o narrador se lamenta de como conduziu a situação. A metáfora base do livro, o mito de Ariadne, funciona como uma camisa de força para o texto, também na ficção não há como fugir do destino marcado pelas Parcas. Não há o que reclamar da forma do livro. Ele tem bons personagens, um enredo envolvente, algumas discussões importantes (o papel das editoras na produção literária, a solidão doentia em uma grande cidade, o provincianismo mortal das pequenas cidades, a fraqueza moral do homem). Não fico muito satisfeito com livros onde não há a menor chance de ser surpreendido, onde tudo fica bem explicado e mastigado para o leitor. Sempre espero algo com mais estofo, algo que me leve a pensar. Paciência. [início 05/12/2009 - fim 08/12/2009]
"Os espiões", Luis Fernando Verissimo, editora Alfaguara, 1a. edição (2009), brochura 15x23,5 cm, 142 págs. ISBN: 978-85-60281-99-2


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