Neste pequeno livro Arturo Pérez-Reverte conta os sucessos de uma batalha que teria acontecido durante a campanha russa de Napoleão de 1812. Saber se o que Pérez-Reverte conta é real ou ficção não é importante, pois a história acaba prendendo a atenção do leitor de qualquer forma. O livro se desenvolve a partir de uma situação muito curiosa que teria acontecido em uma batalha (Sbodonovo diz o livro, seria Dorogobouge, perto de Smolensk - sei lá?). Pois um batalhão de soldados espanhóis agregados ao exército de Napoleão em meio a esta batalha toma a decisão de desertar, indo em direção ao inimigo russo. O movimento é perigoso, pois tanto os russos podem não acreditar na veracidade na rendição, quanto os franceses podem percebê-la antes de consumada. A sorte da batalha em si pendia para o lado russo, com pesadas perdas para o lado francês durante todo o dia, todavia o movimento inusitado do batalhão espanhol dá novo ânimo às tropas francesas. Napoleão ordena a um de seus melhores marechais liderear uma carga de cavalaria em apoio ao grupo e com isto decidem a sorte da batalha de forma inequívoca. A vitória francesa é completa. O membros do batalhão de espanhóis são tratados como heróis. O capitão que os comandava chega a receber uma medalha das mãos do próprio Napoleão, medalha retirada do peito de um de seus estupefactos generais. Ficamos sabendo que o grupo de espanhóis fora forçado a se alistar no exército napoleônico nos preparativos para a invasão à Rússia. A Espanha já havia sido dominada por Napoleão seis ou sete anos antes e as forças espanholas estacionadas em Flandres (na época província espanhola, hoje correspondente mais ou menos a parte meridional da Holanda) acabam tendo de aceitar o alistamento forçado ou a morte. Como se diz em espanhol "De perdidos al río". A partir daí o desastre é inevitável. Napoleão alcança Moscou, mas o inverno chega e a sorte do exército francês acaba. Em um determinado momento somos levados a acreditar que o imperador sabe do falso heroísmo daquele grupo, mas que o utilizou para seus fins práticos. A volta para a Espanha é penosa. Dos 5.000 prisoneiros, 2.000 haviam se alistado, 500 eram os que tentaram desertar, 300 chegam a atravessar o rio Berezina, fugindo dos russos, e apenas 11 chegam sujos, estropiados, ainda vestindo as cores do exército francês, à fronteira espanhola. Um toque de guitarra gitana e a desconfiança da fronteira arrefece. O grupo pode entrar em sua terra e esquecer a guerra. É uma história muito humana, onde o papel do indivíduo frente a loucura da decisões frias dos comandantes é evidenciada. A descrição que Pérez-Reverte faz dos militares franceses (nomes que conhecemos de outras fontes, mais laudatórias e glorificantes) é sempre ácida, cheia de sarcasmo. O livro inclui belas ilustrações produzidas por inspiração no texto. Ignacio Ballesteros é nome do ilustrador. Curioso e tocante livro. [início 25/11/2009 - fim 09/12/2009]
"La sobra del águila", Arturo Pérez-Reverte, editora Punto de lectura (4a. edição) 2001, brochura 11x21,5, 173 págs., ISBN: 978-84-663-0061-9
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