Neste pequeno livro Isabel Ortigas descreve uns bons cinco séculos da evolução de uma das praças de Madrid. É ligeiro, claro, mas é bem escrito e repleto de informações. La Puerta del Sol não é exatamente a praça mais imponente ou monumental de Madrid, mas é aquela que define o marco zero dela e onde alguns dos eventos mais significativos da história da Espanha aconteceram, como os sucessos de 02 e 03 de maio de 1808, a promulgação da constituição de 1812 ou a da república. Como em um palimpsesto a autora nos ensina a descobrir algumas destas camadas de história e de vida presentes na Puerta, desde quando era apenas uma das portas de entrada da cidade murada (a porta voltada ao oriente, a porta do sol) até os dias das obras titânicas de integração de trens rápidos e metrô. As obras escultórias, as fontes d'água, as placas comemorativas, os cartazes de propaganda quase centenários, tudo ambienta inequivocamente aquele sítio, aquele lugar. Tenho dezenas destes pequenos livros da Ediciones de la Librerìa. Cada um deles conta a sua maneira um tanto da cidade de Madrid. É diferente do que encontramos em um livro de viagens convencional ou um guia, que resumem as informações a um mínimo essencial. Apesar de curto aprendemos um bocado com ele. Aprendemos o suficiente para percorrermos com familiaridade aquele espaço concorrido, permanentemente ocupado, seja inverno ou verão. Aprendemos a reconhecer que talvez seja sua constante renovação o principal fator de encantamento, pois as mudanças não são destruidoras, mas antes complementares, quase barrocas. Lembro-me de uma das vezes em que estive ali, na noite em que o bom amigo Manolo Vázquez, chairman de uma conferência de magnetismo, nos recebeu no antigo edifício dos correios, atualmente sede da presidência da Comunidade de Madrid. Esperanza Aguirre não compareceu, claro, mas algum preposto dela fez as honras e agradeceu protocolarmente nossa presença ali. Nós todos, físicos e engenheiros de materiais, não estávamos interessados em política ou história, apenas queríamos desfrutar a beleza do lugar, o bom vinho, a música e a companhia agradável uns dos outros. Quando terminou a recepção ficamos ainda um tempo andando pelas galerias recém restauradas, depois convidei um outro grande amigo, Frank Missell, para tomar una copa em um dos bares das redondezas. Saímos do edifício e encontramos a Puerta del Sol iluminada, senhorial, acolhedora. Nada poderia nos incomodar ou aborrecer naquela hora. Foi mesmo um dia feliz. [início 16/04/2011 - fim 12/05/2011]
"La Puerta del Sol", Maria Isabel Gea Ortigas, Madrid: Ediciones La Librería, 1a. edição (2009), brochura 10x14,5 cm, 63 págs. ISBN: 978-84-9873-043-2
Nenhum comentário:
Postar um comentário