domingo, 6 de janeiro de 2013

zurbarán

Nestes últimos dias, vagabundo, aproveito para retomar leituras interrompidas, terminar os projetos antigos, consultar indicações dos amigos, passar os olhos pela biblioteca procurando algo novo. Claro, sempre aberto às surpresas, ao acaso, ao azar, como sempre deve ser. Um dos livros que estava a esperar dias assim é esse "Zurbarán", de Cees Nooteboom. Hoje é o dia de reis e o dia dos ointenta anos de minha mãe, doña Victória. Depois de falar com ela pelo telefone sabia que teria de dedicar-me a algo que traria lembranças de coisas caras a ela, imergir um tanto no mundo das artes, do epifânico, do mítico. E assim, com Nooteboom, Zurbarán e Vic passei um domingo realmente agradável. O texto de Cees Nooteboom é curto, mas seminal. Assim como sobre a vida em seus romances ele fala aqui sobre arte com exuberância, critério e propriedade (seu "O enigma de la luz" é uma daquelas maravilhas que demoramos para esquecer). Não me surpreendi com sua força. Nas descrições dos quadros ele usa passagens que já encontramos no seu "El desvío a Santiago" (naquele ele confessa que esse último foi pensado para justificar suas viagens por toda a Espnha até os quadros de Zurbarán). Os quadros de Zurbarán são sombrios, soturnos, pesados, carregados de simbolismo e dor. Nooteboom alcança transportar até às palavras a impressão estética que nossos olhos, neófitos e imperfeitos que são, captam, mas não sabem interpretar. Obviamente nada supera a experiência de ver os quadros, mas as pranchas com as reproduções, cinquenta delas (grandes e impressas em papel de boa qualidade) valorizam o projeto. Nunca pude viajar com doña Vic a Madrid, passearmos juntos num dia estival e mágico por lá, mas mostrar a ela livros e fotografias ao voltar das viagens sempre lhe fizeram um grande bem. Vale. Agora sim começou o ano bom. Parabéns uma vez mais minha cara. 
[início 05/01/2013 - fim 06/01/2013] 
"Zurbarán: El pintor del misticismo", Cees Nooteboom, tradução María Condor, Madrid: ediciones Siruela (La biblioteca azul - série Mayor #13), 1a. edição (2011) capa-dura 26,5x31cm, 132 pág. ISBN: 978-84-9841-561-2 [edição original: Zurbarán & Cees Nooteboom. (Essay) Amsterdam: Atlas, 1992 / Zurbarán: Schilderijen 1625-1664 / Zurbaránk (reisverhalen), Amsterdam: Schirmer/Mosel, 2011]

2 comentários:

vera maria disse...

Parabéns para sua mãe, Aguinaldo, espero que ela esteja bem de saúde. Tenho uns dois livros de Nooteboom aqui - 'Rituais' e 'A seguinte história:'. Estão na pilha, acho que já até comecei a ler um deles e parei. Agora outros entraram na frente, enfim, um dia virei a conhece-lo.
Um abraço,
Clara

charlles campos disse...

Encabulo-me de que um leitor como você AINDA, AINDA, não tenha lido Danúbio, do Claudio Magris. Vai por mim, será um dos livros da sua vida.