Já li quase todos os romances de Natsume Soseki (ainda há um inacabado, "Mei An", que foi publicado postumamente e está fora de minha lista). Recentemente soube da publicação em espanhol de algumas de suas cartas e crônicas de viagens. Encontrei dois desses volumes em Madrid (um terceiro terei de garimpar virtualmente). Homem cerebral e focado nos estudos, Soseki, que já pertencia ao quadro de professores da Universidade de Tóquio, ganha uma bolsa do governo japonês para uma estadia em Londres. Lá ele permanece por quase trinta meses, de outubro de 1900 a janeiro de 1903. Como o valor monetário da bolsa era muito baixo Soseki economiza morando em alojamentos e pensões afastados do centro, recluso. Sua vida é modesta, espartana. Quase todo o dinheiro que recebe é convertido em livros de segunda mão (como ele fez para levar quase 500 volumes que adquiriu em Londres para o Japão não é contado nos livros que li dele). Nesse volume estão reunidos dois textos. O mais curto é "Diario de la bicicleta", onde Soseki conta seu fracasso em aprender a conduzir uma bicicleta. Ele é levado a aprender a dirigir uma bicicleta pois seus senhorios, preocupados com sua sanidade mental, praticamente o obrigaram a sair de casa, parar de estudar tanto, num outono de dias ainda quentes. O humor de Soseki é algo contagiante e o leitor é levado à Londres vitoriana pela palavras dele. O texto mais longo é "Carta de Londres", na verdade uma espécie de diário onde é descrita sua rotina de estudos, deslocamentos pelo metro, cafés da manhã com seus senhorios, visitas aos sebos e aos parques. Ambos são dirigidos a dois amigos não nominados (a edição não precisa quem dentre seus amigos em Tóquio chegou a receber os textos, se é que eles foram de fato enviados). Posteriormente, quando Soseki retorna ao Japão, os textos foram reproduzidos em uma tradicional revista chamada Hototogisu. As duas narrativas são muito boas. Soseki é um mestre da ironia e não é nem um pouco auto indulgente, sabe rir de suas trapalhadas e do assombro que é viver num país muito diferente do seu. Ele é capaz de fazer observações muito interessantes dessas diferenças. Soseki nos lembra que a experiência de viajar sempre é seminal, mesmo quando sofremos a privação dos prazeres oferecidos pelo hábito, o fiel camareiro de nossas vidas.
[início: 18/03/2015 - fim: 21/03/2015]
"Diario de la bicicleta", Natsume Soseki, tradução de Abel Vidal, Palma/España: José J. de Olañeta editor (coleccíon Centellas), 1a. edição (2013), brochura 9,5x14 cm., 117 págs., ISBN: 978-84-9716-868-7 [edição original: (Tokyo: Hototogisu, ホトトギス) 1901 e 1903]
Um comentário:
Comprei lá um volume com La Torre de Londres e El Museo Carlyle, que também é irônico e divertido. Essa coleção é muito bonitinha (apesar de um pouco cara). Se estiver faltando este, posso arrumar jeito de te emprestar.
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