terça-feira, 7 de abril de 2015

la torre de londres

Nesse volume encontramos dois textos curtos de Natsume Soseki. Ambos tem uma vocação diferente da que encontramos no outro volume dele que já resenhei aqui (onde estão reunidos "Carta de Londres" e "Diario de la bicicleta"). Se nesses os textos são dirigidos a amigos em Tóquio que posteriormente foram reproduzidos numa revista quando Soseki retorna ao Japão, "La Torre de Londres" e "El museo Carlyle" certamente foram escritos já no Japão, baseado em registros de seu diário e de sua memória (e também editados numa revista). Soseki, que morou em Londres entre 1990 e 1903,  visitou a Torre de Londres uma única vez. Ele enfatiza que uma segunda ou mais visitas destruiria lamentavelmente a rica lembrança da primeira. Ele percorre os vários prédios do conjunto arquitetônico (pois a Torre de Londres não é uma torre isolada), descreve as instalações, mobiliário, inscrições gravadas nas paredes e conta rapidamente os sucessos mais terríveis que ocorreram ali. Ele confessa que as descrições que faz tem muito de invenção, de recriação dramática, sobretudo quando fala das circunstâncias de algumas das mortes mais célebres, como a de Edward IV, Lady Jane Grey, Edward V e seu irmão (os jovens príncipes). Contrastando com a escala grandiosa e os feitos lúgubres associados à Torre, Soseki descreve no segundo texto uma visita que fez a casa/museu de Thomas Carlyle, o renomado escritor e historiador inglês do século XIX. Se na visita à Torre a natural curiosidade dos demais visitantes com o inusitado de um oriental bem vestido fazer turismo não chegou a incomodá-lo, na visita à casa de Carlyle ele foi acompanhado por um guia que incomodou-o o tempo todo. Esse guia infernal insistia em dar explicações sobre a origem dos móveis e disposição deles pela casa, enquanto Soseki queria apenas ter acesso a biblioteca e conhecer o andar onde estava instalado o escritório original do escritor (que de resto projetou a casa e o escritório para ter paz e silêncio quando trabalhava). O texto é bem humorado e quando Soseki consegue livrar-se do guia e passeia só pelo jardim dos fundos da casa também nós, os leitores, sentimos algum alívio e ficamos mais dispostos a desfrutar as delícias daquele belo lugar. Vale.
[início: 14/03/2015 - fim: 16/03/2015]
"La Torre de Londres: seguido de El Museu Carlyle", Natsume Soseki, tradução de Fernando Ortega, Palma/España: José J. de Olañeta editor (coleccíon Centellas), 1a. edição (2013), brochura 9,5x14 cm., 125 págs., ISBN: 978-84-9716-865-6 [edição original: 倫敦塔 (Tokyo: Hototogisu,  ホトトギス) 1905]

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