Quando soube da edição de "Salões de Paris" fiquei realmente entusiasmado. São vinte e duas crônicas, publicadas originalmente em jornais e revistas francesas e que foram reunidas em livro pela primeira vez ainda em 1927. A maioria (quatorze) das crônicas foram publicadas no jornal Le Figaro, entre 1903 e 1913, mas há também trabalhos mais antigos, dos anos 1890, publicados nas revistas Le Gaulois (um), Le Mensuel (cinco), Revue d'Art Dramatique (um), Revue Blanche (um). Metade das crônicas são assinadas por Proust. Nas demais foram utilizados pseudônimos que especialistas acreditam terem sido efetivamente criados por ele. Quem já teve a experiência de ler todo o ciclo "Em busca do tempo perdido" vai ter uma boa cota de alegrias. Ao menos oito dos textos são de fato narrativas ficcionais que foram adaptadas posteriormente nos volumes do ciclo (publicado originalmente entre 1913 e 1927). O leitor encontrará narrativas que lembram várias das passagens mais poderosas daquele ciclo: (i) a dos passeios do narrador com seus pais por dois caminhos (o de Swann e o de Guermantes); (ii) a descrição das virtudes (e vicissitudes) de sua avó; (iii) o retrato de um jovem valoroso (um Robert Saint-Loup ainda pálido); (iv) a associação entre uma menina e uma sebe de pilriteiros, as visitas que fazia a um parque parisiense para vê-la passear; (v) a vista oblíqua dos campanários de uma igreja no horizonte; (vi) o sonho de uma viagem há muito prometida pelos pais (para Florença aqui, mas que sabemos ser para Veneza na versão final do ciclo); (vii) as comodidades de um hotel de praia distante da Normandia; (viii) o reencontro de um narrador com uma velha amiga após anos de isolamento e as dificuldades da senhora em reconhecê-lo. Nenhum desses textos antecipa exatamente sua metamorfose em livro, mas é curioso lê-los e acompanhar sua gênese. O livro incluí também textos absolutamente mundanos: descrição dos vestidos, adereços e da melhor toalete da temporada; a lista interminável dos participantes de uma recepção em Versalhes; outra com várias dezenas de artistas plásticos que mereciam serem visto numa determinada época; hiperbólicas críticas literárias de livros aparentemente irrelevantes; comentários ora jocosos e ferinos ora no limite da bajulação dos salões musicais e literários de que participa. A leitura é sempre divertida, aprendemos um bocado e recordamos aquela atmosfera tão original criada por Proust. Apesar da edição do livro ser realmente bonita de se ver (com lombadas douradas, uma capa bem produzida e vários outros mimos) o livro é frágil demais. Acredito que a capa deveria ser colada de outra forma. Não acreditei quando vi um livro tão bonito perder a capa tão rapidamente. Eu incluiria também notas identificando exatamente que passagens das crônicas acabaram sendo incorporadas (ao menos em parte) na versão final dos romances do ciclo (teimosos contumazes como eu irão até seus guardados e farão a procura para eventualmente cotejar as passagens, mas os editores poderiam facilitar a vida daqueles não completamente familiarizados com os livros). De qualquer forma Proust sabe se defender sozinho. Vale.
[início: 18/08/2015 - fim: 17/08/2015]
"Salões de Paris: Marcel Proust", Marcel Proust, tradução de Caroline Fretin de Freitas e Celina Olga de Souza, São Paulo: editora Carambaia, 1a. edição (2015), capa-dura 12x20 cm., 208 págs., ISBN: 978-85-69002-03-1 [edição original: Chroniques (Paris: La Nouvelle Revue Française / Gallimard) 1927]
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