Neste interessante "Viajes y otros viajes" estão reunidos mais de setenta textos curtos de Antonio Tabucchi publicados originalmente em jornais ou revistas. O período de publicação é longo, os textos mais antigos são de 1984, os mais recentes de 2009. Tabucchi os chama de "ilhas de um arquipélago flutuante" e afirma que os textos nunca foram pensados original e propositadamente como narrativas de viagens, com intuito de serem um dia publicadas, mas que de fato surgiram, naturalmente e vívidas, após algumas de suas longas viagens. O verdadeiro viajante não é aquele que acumula fotografias e registros, mas sim aquele que recupera tudo o que importa de um lugar, duma cidade, dum país quando está sós consigo mesmo, quando volta para o território do hábito e da normalidade, tempos depois das viagens que fez. Os textos estão organizados em capítulos temáticos. Num primeiro capítulo encontramos vinte e seis crônicas ligeiras que se passam em
doze países diferentes: Itália; França; Grécia; Suiça; Turquia; Espanha;
Japão; Egito; Estados Unidos; México; Canadá e Brasil. Tabucchi sabe ser generoso e também cruel. Rimos de sua ironia e avaliamos sua alegria com as coisas simples que descobre. Os três capítulos seguintes reúnem histórias e experiências surgidas na Índia (país que ele explora como um brinquedo novo, intuitivamente); na Austrália (numa abordagem mais cerebral, quase como num guia de viagens, objetivamente) e em Portugal (o mais pessoal e lírico conjunto de todo o livro, demonstrando os porquês de Portugal ter sido o país que adotou como segunda e fundamental pátria). No último capítulo estão reunidas histórias que envolvem leituras e/ou experiências de terceiros, onde ele faz crítica literária, reflete sobre a obra de autores que o estimularam, lembra de lugares que visitou também através dos livros. Há muitas menções ao Brasil e a brasileiros (ele fala não apenas de poetas como Carlos Drummond de Andrade e Murilo Mendes e escritores como Mário de Andrade, Guimarães Rosa e Oswald de Andrade, mas também de Berta Ribeiro (uma etnóloga), de Cândido Rondon, de Aleijadinho). Ao contar suas viagens Tabucchi fala de seus livros mais conhecidos (Noturno indiano; Requiem; Anjo negro; Afirma Pereira), das palestras que fez em congressos acadêmicos, das idéias que desenvolveu ou ouviu em mesas de restaurantes. O jovem escritor e jornalista italiano Paolo Di Paolo assina uma espécie de entrevista, onde as perguntas são retiradas dos textos originais de Tabucchi, de sorte que, afinal, é ele próprio que desenvolve as questões que seus personagens fizeram. Se tivéssemos o talento de Tabucchi talvez seria num livro como esse que registraríamos aquelas experiências que acumulamos e que desaparecem, aí de nós, a cada dia.
[início: 05/08/2015 - fim: 13/08/2015]
"Viajes y otros viajes", Antonio Tabucchi, tradução de Carlos Gumpert (edição de Paolo Di Paolo), Barcelona: editorial Anagrama (Panorama de Narrativas #802), 1a. edição (2012), brochura 14x22 cm., 271 págs., ISBN: 978-84-339-7832-5 [edição original: Viaggi e altri viaggi (Milano: Giangiacomo Feltrinelli Editore) 2010]
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