"A idolatria poética ou a febre de imagens" é um texto experimental de Sérgio Medeiros. Trata-se de um poema - ou de vários livros justapostos - que flerta(m) com o drama, uma provocação aos sentidos, uma legítima proposta literária, uma reinvenção dadaísta, uma inventiva forma narrativa, um jogo non-sense, tudo isso e mais um pouco. Li esse livro quase simultaneamente ao "Graal", de Haroldo de Campos, que já registrei aqui e com o "Antiboi", de Ricardo Aleixo, que em breve registrarei. Haroldo de Campos aparece citado por Sergio em uma curta passagem, como o sujeito que em Nova York perdeu um caderno de poemas, mas o recuperou, por sorte. Já os vários narradores de "idolatria poética", sujeitos obsessivos, temerosos de perderem seus cadernos de notas, cadernos em que anotam aquilo que chamam descritos, esperam a partir deles produzir um texto, uma narrativa, um livro, toda uma obra. O amor excessivo pelo que capturam com olhos e ouvidos e que plasmam em letras, palavras, narrativas, bem como o desejo de absorver toda a poesia da vida de seu entorno e a vertigem das imagens que pululam numa miríade de associações parece intoxicar esses narradores (sempre identificados como idólatras, numerados 1, 2, 3, e assim por diante, até um apostólico 12 final). Esses idólatras/narradores fingem estabelecer diálogos, concentrados sim em seus projetos individuais de escritura. Entre os diálogos encontramos três "livros rêmora", que correspondem a excertos que se grudam ao veio poético principal, como as rêmoras se grudam ao corpo de seus hospedeiros naturais, os tubarões. São "livros Barnacle", diria um cínico joyceano da gema. Outros livros do autor, Sergio Medeiros, se metamorfoseiam pelo poema, cobrando espaço, se autopoetanto um tanto. Entendo esses livros como o resultado do olhar febril de um autor. Um autor/narrador que, acamado um dia em sua casa na praia, ao invés de contemplar, como rotineiramente faz, apenas escunas e canoas ao longe, vê desta vez pela janela de seu quarto os costumes e comportamento pernóstico de um grupo de turistas que alugou um apartamento próximo. Esses turistas escancaram suas misérias, cabotinos que são, mentem sobre literatura e viagens, dão engulhos ao autor, que se vinga incorporando-os à trama, tentando dar nexo naquilo tudo, deixando sua mente viajar. Sabe-se lá! Os experimentos originais e vanguardistas do Sérgio sempre provocam o leitor. O convite para o entendimento resta impresso, cabe a cada leitor trilhar sozinho essa aventura da linguagem. Whither? Para onde? Vamos a ver o que o Sérgio nos oferecerá na sequência.
Registro #1225 (poesia #88) [início: 13/09/2017 - fim: 08/10/2017]
"A idolatria poética ou a febre de imagens", Sérgio Medeiros, São Paulo: Editora Iluminuras,
1a.
edição (2017), brochura 13,5x20,5 cm, 64 págs. ISBN: 978-85-7321-565-6
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