Esse
é o quinto volume da série de romances policiais assinados por Donna
Leon dedicados aos sucessos do Comissário Guido Brunetti. Neste volume são novamente escaladas na trama duas personagens que apareceram originalmente no primeiro livro dela, "Morte no teatro La Fenice", a cantora lírica Flávia Petrelli e a americana especialista em arte Brett Lynch. As histórias de Donna Leon seguem o ritmo das estações. O leitor encontra Brunetti num fevereiro frio e ventoso, época em que não há muitos turistas em Veneza, pois a cidade experimenta o perene fenômeno de "Acqua alta", as marés altas que invadem a laguna e anunciam a proximidade do início da primavera. Lynch, que ao final do "Morte no teatro La Fenice" prometia viajar a China para o início de uma missão de escavações arqueológicas, está de volta a Veneza. Num domingo vagaroso, que seria aparentemente calmo, hedonista, Lynch ouve displicente o canto de sua amiga Petrelli, que na cozinha, preparando o almoço delas, também exercita sua voz, pois a temporada de ópera, a da primavera, no Scala de Milão, logo começará. Ao atender inadvertidamente a porta, dois homens entram em seu apartamento e logo passam a agredi-la com bastante violência, só interrompidos pela presença firme de Petrelli, que saiu da cozinha com uma faca na mão. Brunetti só se envolverá na investigação das motivações desta agressão muitos dias depois e acaba chamando para si a responsabilidade por fazer justiça. Curtos episódios biográficos dos familiares e colegas de trabalho de Brunetti são incorporados à narrativa puramente de suspense. O leitor entende um tanto melhor os humores e a personalidade da secretária Elettra, do policial Vianello, da esposa Paola e dos filhos, Chiara e Raffi. E quem já esteve em Veneza num inverno entende as repetidas descrições do clima e dos muitos desvios que os personagens devem fazer devido às inundações. O livro trata de contrabando de arte, mas também fala da soberba, do orgulho, da arrogância. O caso se resolve, mas como nos livros anteriores dela, não completamente. A vida não é como um jogo, como um quebra-cabeças que montamos e recuperamos de sua desordem. Sempre algo se perde, fica ao sabor da lentidão da justiça e da burocracia, da corrupção e do tédio dos homens. O diabo sempre está nos detalhes. Não há o que fazer. A vida sempre segue.
Registro #1220 (romance policial #65)
[início: 25/07/2017 - fim: 26/07/2017]Registro #1220 (romance policial #65)
"Acqua alta (Brunetti #5)", Donna Leon, tradução de Celso Mauro Paciornik, São Paulo: Editora Schwarcz (Grupo Companhia das Letras),
1a. edição (2009), brochura 12x18 cm., 296 págs., ISBN:
978-85-359-1439-9 [edição original: Acqua alta / aka Death in High Water (New
York: Harper Collins) 1996]
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