Em 2017 entendi na prática as palavras de Flaubert que li há tantos anos: "Meu coração está se transformando numa necrópole".
À morte de minha mãe, no final de dezembro de 2016, seguiu-se a de meu
pai, no meio de junho. Perdemos também uma de nossas gatas, a Niham. Que
praga! Enterrei alguns amigos, perdi-me de outros, outros me erraram, felizmente. Acontece. Li
bastante poesia e
peças de teatro em 2017. De fato, desde o início de 2007, quando esse "Livros que eu li"
fez-se às ondas do rumoroso mar digital, só em 2012 li tantos e bons
volumes de poesia. Bueno. Em 2017 fiz 125 registros de leitura,
aumentando um tanto a media dos
dez anos do blog. Foram 28 romances (22% do total), 19 livros de
crônicas ou de ensaios (15%), 19 de contos, 10 de poesia, 10 romances
policiais, 7 livros de arte, 6 novelas, 6 peças de teatro, 4 de perfis e
memórias, 4 histórias em quadrinhos, 3 infantojuvenis, 3 de turismo, 2
de gastronomia, e um mais ou menos dentro da seguinte classificação: de
fotografias, de cartas, catálogo de uma exposição
de arte e de aforismos (talvez o mais fundamental deles, o do Ambrose Bierce). Já disse que li bastante boa poesia (Tápia,
Medeiros e Aleixo, entre outros) e bons dramas (Shakespeare, nas estimulantes
traduções de Botelho, Lawrence e O'Shea; Sófocles, na da Kathrin ); li cousas
boas japas (Tanizaki, Kafu, Buson, Murakami); li a excelente biografia
de Von Hunboldt; oito bons romances policiais de Donna Leon, 4
belas plaquetes do povo da At it Again. Li os quatro volumes da Série Napolitana de
Elena Ferrante. Li o bom Pamuk
mais recente. Li
poucos livros em inglês (só 5% do total) e em espanhol (6%), talvez
meu pior registro histórico. Paciência. Isso se deu pois nunca havia
lido tantos autores
nacionais. Foram 40 volumes, 32% do total. Alguns foram gratas
surpresas,
outros merecem uma releitura, mas não me entusiasmaram tanto assim.
Aqueles que deixei de 2016 para ler em 2017 continuaram no limbo das
promessas e dos planos, aquela zona
fantasma, muito embora eu tenha avançado um bocado no Tristram Shandy
traduzido pelo Javier Marías. Foram
0,35 livros por dia, 2,46 por semana, 10,5 por mês. Foram
aproximadamente 2/3
livros de ficção, 1/5 de não ficção e 1/5 de bons divertimentos,
seguindo o bom conselho do Montaigne. Ajudei minimamente
o industrioso Abdon Grillo a editar seu estudo sobre o Ulysses, que será
lançado no início de fevereiro, no dia de aniversário do Joyce. Que
alegria. Acompanhei os sucessos das
meninas da famiglia, Helga e Natália, que receberá seu título de
bacharelado em Psicologia em breve, no próximo dia 06. Viajei bastante,
conheci alguns lugares
realmente interessantes do interior do Brasil. Em 2018 haverá mais boa
poesia, haverá os haikus do Bachô editados em Portugal, os novos livros
de Sérgio Medeiros e Ricardo Aleixo, a leitura do Finnegans
Wake da Dirce do Amarante, as novas transcrições caetnogalindescas, a
sempre postergada biografia do Johnson. Haverá mais Donna Leon, gostei
do estilo dela. O Javier Marías deverá lançar mais um livro com suas
crônicas semanais reunidas. Haverá mais biografias e coisas musicais.
Pretendo voltar aos gregos e aos mitos. Talvez irei seguir o conselho de
um amigo de longe, para fazer registros das leituras antigas, prévias a
existência do blog. É uma ideia ainda bruxuleante. Haverá
Copa do mundo de futebol, eleições, um Bloomsday Santa Maria novo.
Talvez eu volte
para a Irlanda, desta vez com a Helga. Logo veremos. É isso. Vale!
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3 comentários:
Penso que você deveria reunir tudo que leu sobre, escreveu sobre e pensa sobre Ulysses e Joyce em um volume que seria, assim, inestimável. ;) Abração.
Um de meus espacos favoritos, esperemos que 2018 venha embalado por belas páginas e boas resenhas, aliás. um sempre presente aqui. Aquelhabraço da Bahia!
Gostei muito da sua análise de leitura! Vou começar a acompanhar seu blog para ver sugestões de livro.
Eu tenho anotado as páginas dos livros, então é possível ter uma média de páginas por dia, ao invés de livros por dia (já que eles variam tanto de tamanho).
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