terça-feira, 10 de julho de 2018

augustus

Essa capa é ridícula, uma das mais feias que já vi, ganha até das cousas amalucadas da Martin Claret, mas a edição é caprichada e o texto, o livro em si, muito bom. John Williams é um autor que publicou pouco (quatro romances e dois livros de poesia), foi professor universitário e é ainda respeitado. "Augustus" foi seu último livro, publicado originalmente em 1972 e ganhou o prestigioso "National Book Awards" no ano seguinte. Trata-se de um romance epistolar, onde são apresentadas o que seriam cartas, diários e registros pessoais de vários personagens históricos que falam do primeiro dos grandes imperadores romanos, sobrinho e herdeiro de Júlio César, Caio Octávio, posteriormente divinizado como Augusto César. Ele governou Roma em seu apogeu, pelo maior período de tempo, mais de quarenta anos, e viveu sucessos sem conta. Williams divide seu romance em três grandes blocos. O primeiro vai do momento em que Júlio César decide adotá-lo e prepará-lo como sucessor (em 45 a.C.) até sua vitória sobre Marco Antônio e ascensão ao trono (em 32 a.C). O segundo bloco segue até 4 d.C, quando aos 66 anos envia para o exílio sua única filha, Júlia e escolhe como sucessor seu genro Tibério. O terceiro bloco continua até a morte de Augusto durante uma viagem em Capri, aos 76 anos, em 14 d.C. O Augusto reconstruído por Williams é um homem amargurado, que sempre confia em seu frio instinto de sobrevivência e em sua capacidade de compreender o caráter das pessoas que o cercam, mas que é capaz de idealizar e sonhar uma Roma menos corrupta, a acreditar na possibilidade de uma vida mais justa para todo o povo romano. Apesar de no livro dezenas de narradores terem a função de contar a história de Augusto o único que alcançamos compreender bem é ele mesmo. É um livro muito fácil de ler, o sujeito não precisa ser um especialista em história romana para acompanhar os sucessos da narrativa, a polifonia de vozes e personagens, a ascensão e queda dos amigos e inimigos do imperador, o desenvolvimento de seu caráter, de sua vida interior, do acúmulo de atos cruéis, por mais bem intencionados que fossem. "Augustus" lembra muito o ritmo de "A morte de Virgílio", de Hermann Broch, publicado em 1945, "Memórias de Adriano", de Marguerite Yourcenar, de 1951 e também "Juliano", de Gore Vidal, que é de 1964, livros que li naqueles mágicos anos 1980, onde parecia haver tempo para se ler tudo o que era publicado, ai de mim! Bueno, terminei noutro dia "Stoner", o romance anterior de John Williams, publicado em 1964, portanto em breve haverá algum registro sobre ele aqui. Vale! 
Registro #1285 (romance #339) 
[início: 06/04/2018 - fim: 10/04/2018]
"Augustus", John Williams, tradução de Alexandre Barbosa de Souza, Rio de Janeiro: Editora Radio Londres, 1a. edição (2017), capa-dura 14,5x22 cm., 378 págs., ISBN: 978-85-67861-23-4 [edição original: Augustus (New York: Viking Press / Penguin Random House Group) 1972]

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