Quando chega Maio e com ele a Feira dos Livros de Santa Maria sempre me preparo para reencontrar don Miguel Gómez, da porto-alegrense Calle Corrientes, senhor argentino dos livros, abrasileirado mascate dos bons. Dentre os portentos que garimpei este ano em sua banca estava esse divertido "Puto el que lee", subtitulado "Diccionario argentino de insultos, injurias y improperios". Mas antes de falar do livro deixe-me contar uma história. Quando mudei-me aqui para a fronteira, para Santa Maria, no já distante 1994, num dia contei uma piada, pois à época entendia que contar piadas era um instrumento válido e universal de acolhimento. Bueno. A ideia era contrastar o comportamento de um judeu, de um negro e de um argentino em virtude de uma confusão em uma maternidade. Pouco importa o desfecho da piada, mas após ouvi-la um de meu anfitriões disse: "se tu trocar (sic) o argentino desta piada por um paulistano sou capaz de rir". Foi bom o reparo dele, pois entendi rápido que aqui no Sul os argentinos não eram tão estigmatizados como em São Paulo, povo mais afeito a manifestar suas diferenças com os portenhos, e que algo dos gáuchos argentinos era caro aos gaúchos do Rio Grande. Pois no livro de Pablo Marchetti encontramos uma miríade de acepções algo chulas e provocativas utilizadas pelos argentinos no dia a dia. A ficha catalográfica do livro o chama de Dicionário de Lunfardo, que é exatamente a popular gíria dos malandros de Buenos Aires. Marchetti, jornalista e também músico, produtor de audiovisuais, editor e escritor, entrega o que promete no título do livro. As palavras estão ali, prontas para expressar raiva, desagradado, indignação, ódio, atacar e defender, rir e achincalhar, provocar sem culpa. Nas palavras do autor, "El insulto es liberador. El insulto es la última estación del combate dialéctico. El insulto nos conecta con la infancia. El insulto nos define. Por eso escribí este diccionario de insultos". Como todo dicionário não se trata de um livro para ser lido de capa a capa. Fiquei com eles ao lado da cama por semanas, treinando e escolhendo os insultos mais apropriados a meu estilo verbal e comportamento: quem me conhece sabe que não preciso de muito incentivo para me envolver em altercações, principalmente quando meu interlocutor é um solene canalha, um odioso escravo mental, um patético lorpa, sempre orgulhoso de sua ativa estupidez. Todavia a chance de eu usar os ensinamentos esse livro na vida prática são mínimos. Também sei ser cortês e não saio de casa para arrumar brigas de caso pensado. Inegável valor, principalmente nestes tempos de estupidez politicamente correta, o arsenal retórico compilado por Pablo Marchetti. Vale!
Registro #1283 (dicionário #2) [início: 17/05/2018 - fim: 07/07/2018]
"Puto el que lee: Diccionario argentino de insultos, injurias y improperios", Pablo Marchetti, ilustrações de Jorge Fantoni, Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Grupo Editorial Planeta,
2a. edição (2017), brochura 15x21 cm., 370 págs., ISBN:
978-950-49-5752-2 [edição original: Puto el que lee (Buenos Aires: Revista Barcelona) 2006]
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