Esse é o vigésimo-sexto livro da série Montalbano, de Andrea Camilleri. "Un nido de víboras"
explora um tema que Camilleri abandonou quando publicou em 2008 seu nono romance da série: "La luna de papel", que é o do incesto. Se naquele volume sobrava apenas a insinuação de uma relação amorosa entre mãe e filho em "Un nido de víboras" toda a trama gravita pelos amores cruzados entre vários membros de uma família. De qualquer forma não é fácil para Montalbano chegar a entender a sequencia factual dos delitos e dos crimes que lhe cabe investigar e, sobretudo, separar o que é público, de ser desvendado, publicizado, constar dos autos do processo e o que é de foro íntimo e, por terrível que seja, deve ser mantido em segredo. Há um longo intervalo temporal entre dois crimes violentos, o afogamento de uma senhora e o assassinato de um pacato advogado de família. Os personagens secundários da série ganham importância aqui. Fazio e Mimi argumentam, enquanto Montalbano parece um Eáco, um Minos, um Radamanto, a julgar serenamente mortos e vivos. A cozinheira Adelina e Sílvia, a eterna amante de Montalbano, continuam se detestando e trocando farpas, mas de suas mútuas intrigas surge o caminho para entender algo dos crimes que esperam solução. Como em uma das comédias de Shakespeare ("Much Ado about Nothing") é um personagem menor e algo obtuso quem de fato resolve os crimes, identifica os culpados. Camilleri sempre faz bom uso da fantasia, dos sonhos, das técnicas do teatro, tanto na criação de cenários quanto no ritmo da narrativa. Agora que estou familiarizado com os romances policiais de Donna Leon, entendo melhor as referências cruzadas sobre as notáveis diferenças entre o povo e a cultura do Norte e do Sul italiano. Brunetti e Montalbano compartilham senso de dever e comportamento ético, mas se utilizam de ferramentas de dedução diferentes, Montalbano é sanguíneo, mercurial, quase dissoluto nos costumes, Brunetti metódico, regrado, introspecto. Já recebi o próximo volume da série, lançado no ínício deste 2018. Logo haverá mais Camilleri por aqui. Vale!
Registro #1292 (romance policial #72)
[início: 24/02/2018 - fim: 28/02/2018]
"Um nido de víboras", Andrea Camilleri, tradução de tradução de Carlos Mayor, Barcelona: publicaciones y ediciones Salamandra, 1a. edição (2017), brochura 14x21 cm., 223 págs., ISBN: 978-84-9838-784-1 [edição original: Un covo di vipere (Palermo: Sellerio editore) 2013]
"Um nido de víboras", Andrea Camilleri, tradução de tradução de Carlos Mayor, Barcelona: publicaciones y ediciones Salamandra, 1a. edição (2017), brochura 14x21 cm., 223 págs., ISBN: 978-84-9838-784-1 [edição original: Un covo di vipere (Palermo: Sellerio editore) 2013]
Nenhum comentário:
Postar um comentário