quinta-feira, 12 de julho de 2018

meu livro violeta

Em qualquer lugar do mundo há edições que são meros caça-níqueis, volumes produzidos para atacar o leitor consumidor quando entra inadvertidamente em uma livraria. É esse o caso de "Meu livro violeta", de Ian McEwan. Todavia, pelo menos desta vez, trata-se de um caça-níqueis com certo pedigree. Paciência. Mas, para o leitor incerto e menos perdulário com seus tostões, sugiro que leia esse conto completo na The New Yorker (foi publicado originalmente no volume de 28 de março de 2016, aqui segue o link) e estamos conversados. O volume incluí também o libreto de uma ópera em dois atos, que dura aproximadamente 140 minutos, intitulada "For You", que foi composta por Michael Berkeley e produzida originalmente em 2008 (o leitor pode encontrar vários trechos da composição no site oficial de Berkeley, segue aqui o link). As duas narrativas de McEwan, conto e libreto, compartilham os mesmos temas, um mesmo mundo de ideias: ascensão e queda, tensão sexual, a fronteira turva entre admiração e inveja. Em "Meu livro violeta" acompanhamos uma espécie de confissão, a descrição de como um escritor rouba o livro e a fama de um outro, um amigo de juventude e que inicialmente fez muito mais sucesso que ele. McEwan faz chamar-se Sparrow o escritor pirata e Jocelyn o escritor pirateado, piadas fáceis. A trama lembrou-me imediatamente um magnífico filme, protagonizado por Terence Stamp, "Tiré à part", de 1996, dirigido por Bernard Rapp e baseado em uma história original de Jean-Jacques Fiechter. Já "For You" conta a história de um mercurial e lúbrico maestro e compositor, Charles, enredado em uma trama de sexo, amor e morte da qual participam sua mulher, Antonia, o médico e amante dela, Simon, sua governanta, Maria, e seu assistente, Robin. A leitura do libreto é fácil, mas como não reproduzimos na leitura silenciosa os sentimentos e epifanias que os intervalos, ritmo e clima da apresentação da Ópera são capazes de provocar num espectador, perdemos algo da experiência. Há símbolos, associações e provocações suficientes para alegrar o leitor curioso. E por fim, há um curto vídeo no YouTube onde ambos, McEwan e Berkeley, falam do projeto e analisam seu resultado: clica aqui! Investi mais tempo procurando informações sobre essas duas histórias que efetivamente as lendo. Paciência. Segue o baile. Vale! 
Registro #1287 (contos #149) 
[início: 07/07/2018 - fim: 08/07/2018]
"Meu livro violeta", Ian McEwan, tradução de Jorio Dauster, São Paulo: editora Schwarcz (Grupo Companhia das Letras), 1a. edição (2018), capa-dura 12,5x18 cm., 127 págs., ISBN: 978-85-359-3123-5 [edição original: My Purple Scented Novel (New York: Vintage / Penguin Random House Group) 2016; For Your (New York: 2008]

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