"Gigante figura" é uma narrativa de ficção, mas é também algo que brota de uma história bastante real, a de um sujeito nascido na Itália e que viveu na virada do século XIX para o inicio do século XX, um homem muito alto, de quase 2,40 metros, chamado Ugo Battista. Fabrício Silveira parte da vasta bibliografia sobre Ugo para construir um romance curioso, onde se reconstrói a personalidade de seu gigante protagonista. Seu processo criativo equilibra uma forma quase acadêmica, pois a linguagem é devidamente contida, factual, de frases curtas e objetivas, com um controlado uso de ricas imagens, metáforas e alusões, cousa de alguém bem preparado, apesar deste ser o primeiro livro publicado por Silveira, que é jovem e é gaúcho. Na verdade ele oferece ao leitor em ordem cronológica uma série de instantâneos da vida de Ugo Battista, desde sua infância, em Vinadio, cidade próxima aos Alpes italianos, até sua morte, nos Estados Unidos, em 1916. Por ser um dos homens mais altos de seu tempo Ugo Battista fez carreira apresentando-se em teatros e circos, na Itália, França e América do Norte, eventualmente apenas deixando-se ver, noutras interpretando bizarros papéis em curtos esquetes. Os capítulos curtos dão pistas de sua curiosidade natural, de seu dom para línguas, de sua dolorosa consciência de estar sendo explorado e achincalhado, de sua persona pública, seus truques para encontrar paz de espírio. Ao leitor cabe imaginar aquilo que não é dito, as circunstâncias da mítica figura retratada por Silveira, refletir sobre o contínuo assombro que ele provocava em qualquer lugar. A edição é muito bem cuidada, inclui desenhos assinados por Denny Chang, outro jovem gaúcho. Os desenhos e o texto dialogam entre si, tornam o livro algo único, como se fosse mesmo um livro arte, um livro objeto, algo que admiramos em parte apenas por seu valor estético, pelo bom acabamento daquilo que temos nas mãos. Alias, cabe registrar aqui que só resolvi comprar esse livro por conta da força de um cartaz que vi na Feira do Livro de Santa Maria. Estava eu na fila para alcançar um autógrafo da Hilda Simões Lopes e de uma outra pessoa que estava lá naquele dia, não me lembro mais quem. Pensava também em eventualmente encontrar o Ronai Rocha, o Noal, o Athos, o Byrata ou outro amigo na Feira. Quando vi o expressivo cartaz de propaganda do "Gigante Figura" resolvi conferir. Folheei o volume e acabei me interessando pelo assunto, pelo tema. Assim é a vida. São os livros, por algum mecanismo mágico, cada um a sua vez, que alcançam fazer-se chegar até nós. Pouco importam as listas que fazemos no início dos anos, os projeto de leitura, os conselhos dos amigos. São os diabretes incorporados em cada livro que nos fazem mudar de ideia, abandonar aquilo que nos aborrece, começar uma nova aventura, novas descobertas. Enfim, gostei da proposta do Fabrício (e dos desenhos do Chang). Vamos a ver o que eles vão produzir no futuro. Vale!
Registro #1296 (romance #342)
[início: 17/06/2018 - fim: 22/07/2018]
"Gigante figura", Fabrício Silveira, ilustrações de Denny Chang, Porto Alegre: Riacho editora, 1a. edição (2018), brochura 16x23 cm., 176 págs., ISBN: 978-85-920303-2-2
Registro #1296 (romance #342)
[início: 17/06/2018 - fim: 22/07/2018]
"Gigante figura", Fabrício Silveira, ilustrações de Denny Chang, Porto Alegre: Riacho editora, 1a. edição (2018), brochura 16x23 cm., 176 págs., ISBN: 978-85-920303-2-2
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