Aprendi um bocado com este livro, mas sei que não entendi completamente todos os conceitos, todos os argumentos, todas as digressões nele contidas. Um dia precisarei voltar a ele, seguro que sim. "As raízes do Romantismo" corresponde às transcrições de seis palestras de Isaiah Berlin proferiu em 1965 na National Gallery of Art (trata-se de uma das conferências anuais Andrew W. Mellow, realizadas desde 1949). As palestras duravam aproximadamente uma hora e suas transcrições trinta, trinta e cinco páginas, mas Berlin tem a habilidade de incluir de forma coerente uma miríade de informações em cada uma delas. Conta Henry Hardy num prefácio que Berlin acabou não realizando seu projeto original de escrever um livro definitivo sobre o Romantismo. Essas palestras são o único registro impresso daquele grande projeto (mas é possível ouvir o quase impenetrável acento britânico de Berlin nos registros da sexta e última palestras em arquivos do YouTube e da terceira palestra num site da Oxford University). Segundo Berlin o Romantismo está além de definições e generalizações, mas seus efeitos na arte, cultura, filosofia e pensamento sim são percebidos (e o que ele diz na segunda metade do século passado ainda vale neste nosso turbulento início do século XXI). Desde o final do século XVIII os temas e valores românticos são centrais nos debates sobre estética, democracia, política e filosofia. Para ele o movimento romântico deve ser entendido como uma revolução na consciência humana. As palestras são divididas em (i) uma apresentação da questão, onde ele fala da dificuldade de definir apropriadamente o movimento; (ii) num debate sobre a confrontação do romantismo aos ideais iluministas; (iii) na discussão sobre papel de Johann Georg Hamann e de Johann Gottfried Herder no início do movimento; (iv) na apresentação da filosofia moral de Immanuel Kant, do impacto das peças idealistas de Johann Schiller e do nacionalismo raivoso que brota das idéias de Johann Fichte; (v) no contexto histórico decorrente da revolução francesa e das guerras napoleônicas sobre o povo alemão e sobre a força de um romance de Goethe (Os anos de aprendizado de Wilhelm Meister) sobre a psiquê alemã; (vi) dos desdobramentos das doutrinas românticas ao longo do tempo, que para ele é, afinal, uma grande incógnita, mas uma boa incógnita. De qualquer forma o resultado do Romantismo são a noção de liberdade do artista, a de que os seres humanos não podem ser explicados por noções simplistas, mesmo cientificamente categorizadas e que dele resultou o liberalismo, a tolerância, a decência e a apreciação das imperfeições da vida. Não é pouco. Henry Hardy, editor das obras de Isaiah Berlin, assina um bom prefácio. O livro inclui também, num apêndice, algumas cartas e telegramas trocadas entre Berlin e os organizadores das conferências (curioso como ele parece assustado com a proximidade do início das palestras e tenta postergá-las), notas e um bom índice remissivo. Vale.
[início: 04/03/2016 - fim: 09/02/2016]
"As raízes do romantismo", Isaiah Berlin, tradução de Isa Mara Lando, São Paulo: editora Três Estrelas (Grupo Folha), 1a. edição (2015), brochura 14x21 cm., 255 págs., ISBN: 978-85-68493-08-3 [edição original: The Roots of Romanticism (New Jersey: Princeton University Press) 1999]
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