Nesse volume estão reunidos 31 ensaios de Virginia Woolf originalmente publicados em jornais ou revistas inglesas e americanas, entre os anos 1925 e 1942. Muitos deles chegaram a ser reunidos em livro por ela mesma nos anos 1920 e 1930. Ela foi uma resenhista profissional, disciplinada, tendo publicado centenas de ensaios por encomenda, mas que também soube utilizar esse formato para reflexões sobre o ofício do escritor e a literatura de sua época. Ela identifica duas atitudes em sua atividade profissional. O que ela chama de resenha é o registro breve sobre o novíssimo, o que ainda cheira a tinta de impressão; o que chama de crítica são os ensaios longos sobre o antigo, aquilo que já não desperta a curiosidade imediata do público comum, mas mereceria ser reavaliado. Claro, ela sabe dos muitos livros que transitam ao longo do tempo pelos dois lados desta classificação. Virginia Woolf faz questão de devolver ao leitor a responsabilidade sobre a avaliação de um livro. O entendimento de suas impressões é uma tarefa que envolve técnica, hábito, disciplina, mas com espaço de sobra para mecanismos subjetivos e inconscientes, transformadores. Em geral ela argumenta sobre a estrutura, virtudes, defeitos, personagens de um livro para logo perguntar ao leitor se ele não se inclinaria para um ponto de vista distinto, contrário, conflitante. O que ela pensa sempre é explicitado. Ela sugere que cada livro deva ser sempre comparado com os melhores "de sua espécie", mas sabe que poucos sobreviveriam à crítica caso aplicássemos inapelavelmente esse critério. Apesar de pelo menos um terço dos ensaios reunidos nesse volume tratarem das várias facetas do ofício do escritor nem todos os ensaios tratam especificamente de livros publicados ou autores. Há peças que são líricas, descrevem uma visita, viagens, registram um estado de ânimo, aconselham, são quase panfletários e se prestam ao debate político, produtos de uma mulher que sempre foi muito participativa, ativa socialmente. Entretanto nem tudo é exatamente ponderado (temos que considerar que são textos produzidos em duas décadas de atividade, em que seu entendimento das coisas naturalmente modificou-se). Num artigo de 1939 ela condena totalmente a atividade do resenhista, sugere que por terem deixado de ter importância tanto para os autores quanto para o público leitor, extingui-los deveria ser uma obrigação social. Num artigo de 1919 ela louva James Joyce (o mais notável de sua época, ela diz), para logo classificar o Ulysses de monumental fracasso, em 1923. A edição da Cosac é um assombro de completa. Inclui toda a bibliografia de Virginia Woolf, inclusive identificando todas as traduções para o português; um índice das obras e nomes citados nos ensaios, o que facilita muito entendermos a evolução de suas idéias sobre um determinado autor; um indíce dos livros explicitamente resenhados por ela e uma curta biografia. Leonardo Fróes não apenas fez a tradução, mas assina também uma boa introdução. Vale.
[início: 10/02/2016 - 17/02/2016]
"O valor do riso e outros ensaios", Virginia Woolf, tradução de Leonardo Fróes, São Paulo: editora CosacNaify, 1a. edição (2014), brochura 14x20 cm., 512 págs., ISBN: 978-85-405-0606-0 [edição original: The Essays of Virginia Woolf (San Diego: Harcourt Brace Jovanovich) 1987-2011]
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