São sete histórias curtas, sete contos. A solidão e a dificuldade de entendimento entre as pessoas aparecem em todos eles. "Homens sem mulheres", o título de um dos contos, dá nome ao livro. Todavia esse título induz o leitor a erro, já que não são apenas homens sem mulheres que povoam os contos de Haruki Murakami. O certo seria talvez dizer que seus protagonistas, homens ou mulheres, são pessoas notavelmente solitárias, pessoas vocacionadas para a solidão. Em "Drive my car" um ator contrata uma motorista, pois está com sua carteira de motorista suspensa, impedido de dirigir seu carro. Ele confessa a ela a experiência que teve ao se aproximar (e de certa forma consolar do luto) o último dos amantes de sua mulher, já falecida. Em "Yesterday" um rapaz lembra de como um grande amigo seu insistiu para que ele se envolvesse com sua namorada, não como um teste de fidelidade, mas como um exercício de desapego. Muitos anos depois ele reencontra essa garota e eles falam deste curioso amigo. Em "Órgão independente" um sujeito conta como um médico conhecido seu literalmente morreu de amor, ainda na meia idade, após anos de hedonismo e vida organizada. Lembra muito um livro de Somerset Maugham que li há décadas, mas com alguns papéis trocados. "Sherazade" conta os sucessos de uma pessoa impedida de sair de casa que recebe semanalmente a visita de uma faxineira com quem também faz sexo. E é depois do sexo que ela conta a ele cativantes histórias de sua juventude onde se misturam vigília, memória e sonho. "Kino" é a história de um rapaz que se reinventa administrador de um bar após perder o emprego e a mulher que o traía. Ele passa a receber a visita de um cliente que parece entender suas necessidades e seu destino melhor do que ele mesmo. Por influência deste cliente ele decide partir numa viagem de autoconhecimento."Sansa apaixonado" é uma invenção interessante, uma brincadeira sobre o destino do personagem de Kafka após sua metamorfose. Gregor Sansa acorda novamente humano e conversa com uma garota lasciva que foi contratada por seus pais para instalar uma fechadura em seu quarto. "Homens sem mulheres" começa quando um sujeito é acordado no meio da noite pelo marido de uma antiga namorada dos tempos do colégio (namorada com quem não mantinha contato há décadas). A única informação que esse marido dá a ele é que essa namorada tinha acabado de cometer suicídio, notícia que leva o sujeito a elaborar uma teoria sobre os porquês das mulheres se afastarem inapelavelmente dos homens. Os contos são inventivos e sem aquelas distrações algo surreais, excessivamente mágicas ou artificiais dos demais livros de Murakami que já li. Cada um dos contos não precisa de desfecho ou continuação. São peças inusitadas, com algo de perturbador escondido nelas, que geram, a partir do bizarro no caráter e nas ações dos personagens, múltiplas interpretações.
[início: 04/03/2016 - fim: 18/03/2016]
"Homens sem mulheres", Haruki Murakami, tradução de Eunice Suenaga, Rio de Janeiro: editora Objetiva
/ Grupo Prisa, 1a. edição (2014), brochura 15x23,5 cm., 238 págs.,
ISBN: 978-85-7962-438-4 [edição original: Onna no inai otokotachi (女のいない男たち) (Tokyo: Bungeishunju Ltda.) 2014]
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