De Claudio Magris já havia lido dois bons livros: "Microcosmos" e "Danúbio". Separei esse "El infinito viajar" para ler nas férias de verão porém outras coisas ocuparam meu tempo. Felizmente o incluí na bagagem destes dias de Páscoa e ele embalou-me na viagem que fiz com as meninas. São 39 histórias curtas, apontamentos de viagem, episódios, anotações breves que posteriormente foram utilizadas em outros livros mas, que a diferença deles, ainda guardam o vigor das primeiras impressões dos sucessos que ele experimentou. Os textos cobrem um período extenso, quase um quarto de século, desde 1981 até 2004 (o prefácio é de 2005 e por si só já conta muito da aventura de Magris por encontrar lugares e entender as pessoas de nosso tempo). Metade das narrativas é anterior a queda do Muro de Berlim (uma dos grandes temas dele, academicamente falando); onze delas dos anos subsequentes, os anos 1990; quatro são deste nosso terrível início de século XXI e outras quatro quase vetustas, dado o acelerado dos dias, do início dos anos 1980. Na edição optou-se por agrupar os textos geograficamente, como se Magris estivesse fazendo uma longa viagem (não uma viagem circular como a de Ulysses, mas uma - que ele chama de nietzschiana - que segue sempre adiante, sem que o viajante olhe para trás e sem dar a ele esperança de uma volta ao lar). Metade dos textos tratam de cousas vivenciadas na Espanha, na Alemanha e
na fronteira da antiga Iugoslávia e a Itália, ao redor de sua Triestre
natal. Ele começa sua viagem na meseta espanhola, na Mancha, secundado por Don Quijote e Sancho Panza. E de lá segue com suas histórias vividas na Inglaterra; Áustria; Tchecoslováquia e República Tcheca; Polônia, URSS; Finlândia; Suécia; Noruega; México e Estados Unidos; Irã; China; Vietnã e Austrália. Magris explica rapidamente o porque de suas muitas viagens e estadias pelos Estados Unidos e outras cidades caras a ele não terem gerado apontamentos como os coligidos no livro. É o acaso quem governa a escolha entre tentar registrar algo imediatamente ou de simplesmente viver a experiência, esquecê-la para relembrá-la (como Proust nos ensinou). Ele não é um flâneur que descreve apenas as cidades, suas casas e avenidas, o cenário urbano e a história oficial dos lugares, mas sim um que conta o impacto de encontros com amigos, colaboradores, colegas e estudantes (Magris é, antes de tudo, um ativo professor universitário). Talvez seja mesmo verdade, como diz Magris, que viver, viajar e escrever são facetas de um mesmo ato. Vale.
[início: 22/03/2016 - fim: 27/03/2016]
"El infinito viajar", Claudio Magris, tradução de Pilar García Colmenarejo, Barcelona: editorial Anagrama (Colección Compactos #560), 1a. edição (2008), brochura 14x20,5 cm., 290 págs.,
ISBN: 978-84-339-7662-8 [edição original: L'infinito viaggiare (Milano: Arnoldo Mondadori Editore) 2005]
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