"Antiboi" reúne parte da produção poética mais recente de Ricardo Aleixo, engendrada entre 2013 e 2017. Digo "parte de sua produção" pois há cousas dele que só sabe quem o vê performando em um evento, quem alcança um vídeo de uma apresentação dele, quem participa de uma aulaoficina no Lira, seu laboratório de criação e pesquisa. Talvez um dia os gadgets tecnológicos possibilitarão o registro também desta sua faceta artística, mas por enquanto quem vive longe da rota de apresentações do Aleixo tem que se contentar com a obra física, aquilo que resta impresso, disponível num livro. Pois "Antiboi" reúne 33 poemas. A grande maioria é de propostas curtas, sintéticas, não exatamente crípticas, mas que cobram do leitor um esforço para entender as camadas no palimpsesto de signos, conceitos, ironias e jogo verbal. Uns poucos poemas são mais longos, incapazes de se reduzir àquela fórmula de concretude máxima dos demais e se esparramam por duas ou mais laudas, como se quisessem fazer-se entender melhor. Nestes o leitor encontra o Aleixo mais reflexivo, que se deixa navegar. O conjunto de poemas espelha preocupações ora políticas e ora afetivas. O sujeito vê o mundo, o denuncia e confronta, radicaliza num embate que sabe ser necessário. Todavia, se faz da poesia ferramenta de luta e provocação, não se esquece do homem que vive uma vida plena, que tem uma história, uma memória rica de ensinamentos familiares, que experimenta a benquerença, não se embrutece, como aconteceu com Fafner, por exemplo, naquela mitologia antiga. Alguns dos poemas curtos funcionam como statements, declarações, aforismos, gritos de rua, plataformas. Outros conjuram carinho e respeito a pessoas queridas, figuras públicas, como num tríptico sobre Milton Nascimento, Elza Soares e Luiz Melodia, ou anônimas, de seu círculo familiar e de amizades. O livro inclui um ensaio curto de Fábio Belo, que analisa certas implicações estéticas dos poemas à luz da psicanálise e fala sobre Antiboi como significante de resistência, de resistência ativa, que supera obstáculos. Interessante. E vamos em frente. Em tempo: dos demais livros dele que li deixei registros, então clica!.
Registro #1230 (poesia #89) [início: 10/10/2017 - fim: 13/10/2017]
"Antiboi", Ricardo Aleixo, Belo Horizonte: editora Crisálida, 1a. edição (2017), brochura 14x21 cm., 64 págs., ISBN: 978-85-87961-87-7
Um comentário:
Boa dica. Abraço.
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