Luiz Antonio de Assis Brasil, premiado autor gaúcho, mantém há mais de três décadas uma Oficina de criação literária (sempre vinculada ao curso de letras e a programas de pós-graduação da PUC-RS). Esta experiência na formação de novos escritores, aliada a sua expertise como autor de duas dezenas de peças de ficção, levou-o a editar recentemente esse seu "Escrever ficção", que como o subtítulo já denuncia, é um manual de criação literária. São nove capítulos temáticos, que tratam da identificação de quem tem - ou pode ter - a vocação de ficcionista; de como se constrói um personagem; de como se trata a questão do conflito nas narrativas; da gênese do enredo e sua estrutura; dos pontos focais que todo texto deve ter, ou seja, das vozes e tempos verbais possíveis dos textos; do lugar onde os sucessos acontecem, ou seja, do entorno das ações e eventos da trama; do tempo, sempre fugidio, onde o autor deve povoar seus personagens; dos estilos possíveis, da habilidade que pode ser cobrada de um autor; e, por fim, termina oferecendo um roteiro básico para a construção de um romance. Não são soluções ou recomendações fechadas, intransigentes, dogmáticas. Assis Brasil tenta emular aquilo que acontece com método em suas aulas, tenta resumir no livro os acertos e erros mais frequentemente observados nestas aulas e na trajetória profissional de seus ex-alunos. Para sustentar seus argumentos, Assis Brasil faz uso de muitas citações de trechos de obras de autores cujas obras são exemplares. E também dá exemplos retirados da experiência ou da obra daqueles ex-alunos. O livro enfeixa também várias, vamos dizer assim, "retrancas", que são parágrafos destacados, que sintetizam um determinado tema, como se fossem conclusões do que foi discutido sobre um assunto com uma turma ao final das aulas (óbvio, trata-se de um resumo de 30 anos de conclusões e experimentos). Essa peças, a meu juízo, de menor anão desta província, ágrafo romancista, até poderiam ser editadas à parte, numa espécie de "guia rápido de criação literária". De qualquer forma, como Assis Brasil bem lembra várias vezes ao longo de seu manual, nada substitui o tempo de leitura, e acrescento, numa ênfase minha: seja de clássicos, de obras menores, de best-sellers, de autores de quem nunca ouvimos falar, de livros tolos e mal escritos, de obras geniais e imprescindíveis. Mais uma cousa: ele lembra que seu livro oferece aos escritores em formação, seus interlocutores ideais, leitores deste volume, apenas recomendações, sugestões estilísticas e alertas generalistas. O adestramento à prática inventiva da ficção parece ser a ele uma real possibilidade. Oká. Sabemos que um escritor que se recusa a ler livros sempre estará enredado em uma prisão mental, pois terá acessíveis a si apenas um punhado de ideias e experiências. A educação literária é algo necessário, mas eu mesmo pouco acredito na ideia de que qualquer indivíduo possa escrever romances dignos de nota, por mais oficinas e cursos que faça, por mais livros que leia, palestras que ouça. Paciência. Chega dessa esquivança. Este livro do Assis Brasil é ouro puro e fino para quem quer sim entender-se com sua vocação de escritor. Vale a pena conferir. E mais não digo. Vale!
Registro #1392 (crônicas e ensaios #252)[início: 07/04/2019 - fim: 01/05/2019]
"Escrever ficção: Um manual de criação literária", Luiz Antonio de Assis Brasil, colaboração de Luís Roberto Amabile, São Paulo: editora Schwarcz (Companhia das Letras / Penguin Random House),
1a. edição (2019), brochura 14x21 cm., 396 págs., ISBN:
978-85-359-3207-2
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