De Joca Reiners Terron só havia lido livros de ficção, quatro densos e provocativos bons romances: "Não há nada lá", "Guia de ruas sem saída" e "A tristeza extraordinária do leopardo-das-neves" e "Noite dentro da noite". Recentemente ele publicou um livro de poesias, "O sonâmbulo canta no topo do edifício em chamas". No miolo do livro estão 63 poemas e na capa, contracapa e orelhas 12 belas fotografias e um último poema. São poemas onde sempre um urbano, incógnito e algo preocupado narrador fala de seus afazeres, libera reflexões, canta seu cotidiano e dúvidas, narra fragmentos de memória. Um poema apresenta os demais: quatro conjuntos de poemas quase sempre curtos e dois longos, separados. Nos dois poemas mais longos o narrador queima ou vê queimar seu passado, os registros fotográficos de uma vida, numa espécie de inventário maldito, ou imagina se sua vida poderia ser emulada em um outro planeta, que orbita um estrela, parecida com o nosso Sol, distante. Nos poemas curtos o narrador fala da vida, de uma filha, de um casamento, faz sociologia selvagem e interpreta notícias, acontecimentos, com sarcasmo, vê pessoas de longe e imagina seus destinos, acompanha o burburinho da noite em sua cidade como se fosse um dramaturgo cruel e cínico. Talvez, talvez não, certamente, essa minha tentativa de enfeixar os poemas em temas, ritmos, musas, seja uma bobagem sem fim. Cada poema se defende sozinho, encontrará seu leitor, tocará uma fibra mental, provocará um efeito literário em alguém disposto a enfrentar os monstros alheios. Não mais que isso um bom e honesto poeta pode esperar. Evoé Terron, evoé. Vale!
Registro #1395 (poesia #110)[início: 01/04/2019 - fim: 19/04/2019]
"O sonâmbulo canta no topo do edifício em chamas", Joca Reiners Terron, São Paulo: Pedra Papel Tesoura Editora, 1a. edição
(2018), brochura 19,5x25 cm, 120 págs. ISBN: 978-85-907516-7-0
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