Pedro da Silva Nava, o melhor dos memorialistas brasileiros, disse num dia dos anos 1980, em uma famosa entrevista: "A experiência é um automóvel com os faróis virados para trás, (...) só serve para o sujeito dizer 'fiz bem', 'fiz mal' ". Marcos Lisboa e Samuel Pessôa, bem mais jovens e otimistas que o velho Nava, parecem não acreditar na eficiência desta sentença. Neste "O valor das ideias" eles oferecem ao leitor algo das reflexões e experiências deles sobre o passado recente do Brasil e dos brasileiros, e acreditam que os possíveis futuros do Brasil poderão ser gestados a partir de diálogos, debates, interlocução inteligente. São ensaios que tratam do mundo das ideias, da economia e da política. Quase todos os 23 textos reunidos neste volume foram anteriormente publicados em jornal (Folha de São Paulo) e em uma revista (Piauí), por eles dois e outros 11 intelectuais brasileiros. Alguns textos foram publicados e podem ser acessados em um blog do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE/FGV). Os ensaios estão organizados em quatro conjuntos, correspondendo a debates (ou a diálogos, como preferem os autores), que aconteceram em 2016, 2017 e 2018. Os diálogos foram travados sempre com vigor, algumas vezes no limite da fúria, mas sempre
com civilidade, autocontenção (para usar um termo caro a todos os
sujeitos que deles participaram). O mais longo dos quatro conjuntos de diálogos, que ocupa 40% do livro, foi entre Ruy Fausto e Samuel Pessôa, merecendo contribuições de Marcelo Coelho e de Marcos Lisboa. Trata-se de discussões sobre o papel das esquerdas na sociedade brasileira contemporânea, se as estratégias e as práticas deste grande conjunto de agremiações nos últimos anos devem ser modificadas ou mantidas. Dois outros conjuntos de ensaios, de igual extensão e que juntos somam 50% do livro, correspondem ao debate entre Fernando Haddad e Marcos Lisboa (sobre os quatorze anos de governos petistas em contraste com os oito anos de governo FHC) e ao debate entre Celso Rocha de Barros, Marcos Lisboa e Samuel Pessôa (sobre "comedimento", ou "senso de medida", ou como a "virtude que nos protege da tragédia", nas palavras de um interlocutor deles três, Helio Gurovitz, que pode ser acessado aqui: clika!). Um quarto e último conjunto, que é o menor de todos, é também o mais antigo e o mais frouxo deles, acho eu. Trata-se de ensaios onde são contrastadas as práticas de economistas políticos ortodoxos e heterodoxos. Com a exceção dos ensaios publicados no blog do IBRE, acho que já havia lido quase todos os demais, quando foram originalmente publicados. Relendo-os agora não é muito difícil de aceitar que naquela época ainda havia tempo para evitar a tragédia absoluta que experimentamos hoje, 2019, em todos os setores da sociedade. Agora parece tarde demais para tudo, serão décadas e décadas perdidas, em sucessão, antes que alguma inteligência volte a administrar as coisas por aqui. Todavia, a se acreditar no otimismo deles dois, e de boa parte de seus interlocutores, talvez seja possível que em algum momento o Brasil saia do absoluto atoleiro em que se encontra. Em tempo: Esse é o registro número 1400 deste Livros que eu li, 1400
leituras feitas desde janeiro de 2007. Foram 0,30 livros por dia, 2,2
por semana, 9,5 por mês, 117 por ano. Quantos mais terei a paciência de
fazer? Não muitos mais, eu suponho. Vamos a ver. Vale!
Registro #1400 (crônicas e ensaios #256) [início:01/05/2019 - fim: 15/05/2019]
"O valor das ideias: debates em tempos turbulentos", Marcos Lisboa e Samuel Pessôa, diálogos com Ruy Fausto, Fernando Haddad, Marcelo Coelho, Celso Rocha de Barros, Helio Gurovitz, Luiz Fernando de Paula, Elias M. Khalil Jabbour, José Luis Oreiro, Paulo Gala, Pedro Paula Zahluth Bastos, Luiz Gonzaga Belluzzo, prefácio de Renato Janine Ribeiro, São Paulo: editora Schwarcz (Companhia das Letras / Penguin Random House),
1a. edição (2019), brochura 14x21 cm., 459 págs., ISBN:
978-85-359-3215-7
Um comentário:
Parabéns pelos 1400 registros, Prof. Guina. Nós, que já adicionamos alguns títulos a nossas humildes bibliotecas acompanhando nosso querido aedo cantando seus sucessos, eternos devedores que somos, seguiremos adiante, como encantados, às notas de sua cítara. Vale!
Postar um comentário