terça-feira, 18 de dezembro de 2012

b*****

No Moby Dick Herman Melville faz suas personagens empreenderem a perseguição de um Leviatã. Em B***** Luciano Bitencourt faz algo parecido, mas sua Moby Dick não é um poderoso e mítico cachalote branco, mas sim a miríade de formas do sexo feminino (o escultor Jamie McCartney fez recentemente algo similar no seu The Great Wall of Vagina). A história que se narra não é linear (embora a forma não seja o mais importante no livro), nem seus personagens previsíveis. Talvez a pretensão do livro seja apenas contar uma boa história de amor, sem artificialismos ou modismos bestas (disso os consumidores de ficção contemporânea brasileira já estão fartos). As divagações da protagonista, em coma em um leito de hospital, lembram Leite derramado, do Chico Buarque, e Quase memória, do Carlos Heitor Cony. Acontece que na história de amor de Luciano Bitencourt o sexo é arrebatador, convergente. Como ele não é o tipo de sujeito que se conformaria em descrever, por exemplo, A origem do mundo, como um quadro que retrata o “sexo de uma mulher” (estou seguro que ele tampouco usaria “genitália”, ou “vulva”, ou “vagina”, ou mesmo “órgão sexual feminino”) em seu livro ele fez uma espécie de censo de todas as acepções dicionarizáveis ou não para “sexo”. Por fim ele optou por chamar seu livro de B*****, mas talvez ele devesse chamar de Boceta de uma vez e ver o que o público leitor acha. Há ciência e arte nesse divertido livro (o primeiro de uma prometida trilogia, já se sabe).
[início 27/11/2012 - fim 29/11/2012] 
"B**** (Boceta)", Luciano Bitencourt, São Paulo: Karina Gonçalves Ag. Notícias, 1a. edição (2012), brochura 12,5x18 cm, 155 págs. ISBN: 978-85-66285-00-0

Um comentário:

vera maria disse...

Acho que tem um livro do Biajoni com esse título, mas confesso que não gosto dessa explicitude que o nome sugere, e também não gosto do nome - não gosto de nenhum nome de órgão sexual, nem masculino nem feminino, acho que eles todos foram carregados de tantos sentidos desagradáveis, sobretudo os da mulher, que não vejo beleza neles. O menos feio (para mim, claro) é pau - acho que porque me lembra madeira, floresta, vida e natureza... ::))
abraço, ótimo ano de ótimas leituras no ano que entra e sempre,
clara