sábado, 22 de dezembro de 2012

torquator

Fiquei sabendo deste livro ao assistir uma mesa-redonda durante a última feira do livro de Porto Alegre. Pois lá Tailor Diniz, Carlos Eduardo de Magalhães e Henry Trujillo debatiam sobre literatura como ferramenta de integração o Brasil e o Uruguai. Conversa boa, daquelas onde aprendemos algo e nos divertimos ao mesmo tempo. Curioso com o assunto resolvi ler "Torquator", romance de estréia de Henry Trujillo, publicado originalmente em 1993. É um romance pequeno, compacto, que tem seu valor. Essa primeira edição em português, bilíngue, da Grua, faz parte de um projeto de divulgação da literatura utuguaia no Brasil (e da literatura brasileira no Uruguai, claro!). Trujillo usa um artifício literário convencional para contar sua história, mas que funciona muito bem. Ele começa seu livro com um encontro casual (no caso em um ônibus, onde um sujeito e uma moça rumam para a fronteira do Uruguai com o Brasil), fazendo os dois transportarem o leitor para a narrativa de uma outra história - contada pela moça -,  que é a que importa afinal de contas. Nessa história sabe-se que uma garota chamada Yolanda vive um situação miserável, cuidando da mãe paraplégica e já algo senil. Ela passa a receber cartas misteriosas de um sujeito que assina Torquator, cartas que não explicitam seu objetivo. Os desdobramentos da história tornam a vida de Yolanda ainda mais terrível, envolvendo-a em uma trama labiríntica. Pode-se ler esse livro como um romance policial mas Trujillo alcança um registro um tanto mais poderoso e cerebral. O livro é sofisticado na medida em que não soa artificial, nem fantasioso. A linguagem é coloquial sem ser caricata, percebe-se que o autor deve ter trabalhado um bocado para chegar a esse refinamento. O final é aberto. Os personagens parecem duplos de si mesmos. O leitor pode entender as ilações do autor e interpretá-las de várias formas. De qualquer forma não faz falta um desfecho objetivamente inquestionável. Ok. Todavia, como tenho ainda algum zê-lo pela ciência, não posso deixar de registrar aqui que Trujillo (ou seu personagem, que pode errar mais que o autor, sem que isso o incrimine, afinal de contas) erra ao mencionar como de Galileu uma frase que na verdade é de Arquimedes. Enfim, acho que é o caso de procurar outros livros dele no futuro. E vamos em frente.
[início 02/11/2012 - fim 04/12/2012] 
"Torquator", Henry Trujillo, tradução de Pablo Cordelino Soto e Walter Carlos Costa, São Paulo: editora Grua, Montevidéu: editorial Yaugurú (colección Boca a Boca #2), 1a. edição (2012) brochura 14x21cm, 179 pág. ISBN: 978-85-61578-25-1 [edição original: Torquator (Montevideo: Ediciones de la Banda Oriental - colección “Lectores”) 1993]

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