Comprei esse livro por acaso. E que boa surpresa arrumei para mim mesmo! São cinco contos muito bons. No primeiro um velho e pragmático crooner americano, hospedado em Veneza, convida um jovem músico a acompanha-lo em uma serenata para sua mulher. O rapaz e o crooner conversam um bocado sobre amor e afeto, sucesso e música, sobre a relação de homens com as mulheres. No segundo um sujeito, professor de línguas, que viaja pelo mundo em função de seu trabalho, é convidado para ficar hospedado na casa de uns amigos, colegas de quem era muito íntimo nos tempos da faculdade. O reencontro, algo amalucado, mistura mágoas e expectativas. No terceiro conto um jovem músico resolve passar uma temporada no interior inglês, na pousada/restaurante de sua irmã mais velha, trocando a oportunidade de alguma paz para trabalhar em suas composições e eventuais ajudas na cozinha. Ele conhece um casal de cantores suiços de meia idade, com quem troca algumas experiências. No quarto conto um músico respeitado profissionalmente mas que ainda não alcançou o sucesso que acredita merecer é convencido a fazer uma cirurgia plástica. Na clínica onde a operação é realizada ele conhece uma mulher muito famosa e espirituosa, que de alguma forma apresenta a ele as nuances do mundo do show business que ele desconhecia. Na última das histórias Ishiguro faz um músico contar a história de um jovem colega que foi enfeitiçado por uma espécie de anti-musa, uma mulher que após um bloqueio musical parece vampirizar jovens músicos para descobrir como eles continuaram seus estudos, apesar das dificuldades. Em todas as histórias a experiência estética da música domina a narrativa. Em todas elas o leitor encontra uma dificuldade de comunicação, como se os personagens conseguissem apenas se expressar através da música que produzem e não por meio da vida em si. O que eu entendo como dificuldades de comunicação se manifesta nas lições de moral que personagens impõe aos demais, na raiva contida que se acumula neles, nas reflexões que cada um tem de suas carreiras, em contraposição a de seus amigos ou colegas. Encontramos também digressões sobre as diferenças entre as gerações, sobre como cada pessoa (ou geração) lê o mundo de uma forma distinta das demais. Impressionante como um escritor pode ser capaz de fixar em livro sentimentos tão sutis e poderosos.
[início 05/12/2012 - fim 06/12/2012]
"Noturnos: histórias de música e anoitecer", Kazuo Ishiguro, tradução de Fernanda Abreu, São Paulo: editora Companhia das Letras, 1a.
edição (2010), brochura 14x21 cm, 210 págs. ISBN: 978-85-359-1636-2 [edição original: Nocturnes: Five stories of music and nightfall (Londres: Faber and Faber) 2009]
Um comentário:
Gostei demais desse livro, não conheço o autor, mas em breve, quem sabe... nem tenho mais coragem de dizer que vou comprar pq estou uma leitora muito fraquinha por agora. abraços, bom fim de ano pra você e ótimos livros sempre, clara
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