Em "Escenas de la vida rural", publicado originalmente em 2009, Amos Oz narra oito histórias curtas, oito contos curiosos, ambientados em um fictício vilarejo das montanhas de Israel, Tel Ilán. Cidade em nada aparentada à Bat Yan que ele nos apresenta no bom "El mismo mar", livro dele que li recentemente. Os personagens principais de cada história fazem curtas aparições nas demais, tornando o livro um mosaico de sentimentos, de registros de estados de alma, de memórias, distintos entre si. A cidade parece estagnada, com uma população já velha, de pessoas apegadas a um passado de lutas e dificuldades, oprimidos pela história (os nomes das ruas de das praças) e antepassados (os valorosos pioneiros fundadores). Os protagonistas são sujeitos quase sempre sem laços de família (ou a ponto de romper estes laços). As histórias giram quase sempre em torno da posse de uma casa, da compra e venda de uma casa, da eventual reforma ou demolição de uma casa (talvez uma espécie de metáfora ou juízo velado de Oz para o que acontece naquela região há tempos). Há sempre algo de inusitado ou maluco nas histórias, como se elas fossem inicialmente realistas, mas subitamente se tornassem fruto de um sonho, delírio ou coisa parecida. Os personagens quase sempre estão esperando algo que não se materializa, não se concretiza. Os nomes de sete dos oito contos são como códigos para o que seguirá: Herdeiros, Parentes, Escavam, Perdidos, Esperam, Estranhos, Cantam. Já o último conto (Em um lugar distante em outro tempo) parece descrever o futuro distante (ou o passado remoto) de Tel Ilán, num outro tempo, onde é completa a estagnação, inevitável a morte em vida, inexorável a perda das ilusões e sonhos. Os finais, sempre fantasiosos ou surreais, deixam ao leitor a tarefa de interpretar do que tratam exatamente. Duas passagens me chamaram a atenção: na primeira o narrador diz que é possível sempre ver nos adultos a criança que este adulto foi um dia (as vezes esta criança interior está viva, mas muitas vezes esta criança já está morta), na segunda um estudante fala das diferenças entre árabes e israelenses distinguindo a origem da infelicidade de ambos (Oz apresenta uma críptica interpretação sociológica que me parece interessante, mas isso um leitor curioso tem que buscar pessoalmente no livro). Já li coisas melhores dele, mas estas histórias tem lá seu interesse.
[início 15/10/2012 - fim 03/12/2012]
"Escenas de la vida rural", Amos Oz, tradução de Raquel García Lozana, ediciones Siruela (Nuevos Tiempos), 1a.
edição (2010), brochura 14x21,5 cm, 167 págs. ISBN: 978-84-9841-377-9 [edição original: (תמונות מחיי הכפר 2009)]
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