sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

benito cereno

"Benito Cereno" é uma novela que realmente prende o leitor. Trata-se de uma história curta na qual acompanhamos o relato do experiente capitão de um navio baleeiro americano, chamado Amasa Delano, sobre as circunstâncias de seu encontro com um navio negreiro espanhol comandado pelo jovem capitão Benito Cereno. Os sucessos da narrativa acontecem basicamente nas proximidades de uma ilha na extremidade sul do Chile, na costa do Pacífico Sul portanto, no final do século XVIII. Prefiro não contar nada da trama, que se baseia em um duelo psicológico, em como o capitão Delano lentamente compreende os conflitos reais e imaginários do capitão Cereno e as razões para seu errático comportamento e ambivalente boas maneiras. Melville alcança manter o suspense sobre o quê de factual aconteceu ao navio do capitão Cereno antes de aproximar-se da ilha, bem como daquilo que decorre a partir do momento em que os dois ficam juntos no navio negreiro. A história propriamente dita é contada (compreendida talvez seja o termo mais correto para se usar) em pouco menos de doze horas, que é o tempo em o capitão Delano fica a bordo do navio do capitão Cereno. Em umas poucas páginas finais, cerca de um quinto ou um sexto do livro, Melville faz uso literário de relatórios, declarações juramentadas, cartas e transcrições de relatos para sugerir ao leitor os últimos desdobramentos da trama e propor verossimilhança ao que Delano apurou sobre Cereno. Com nossa sensibilidade contemporânea é fácil enquadrar esta novela na categoria de criações politicamente incorretas, discriminatórias, xenófobas, o que seria uma solene bobagem. O método de Delano, quase científico, de sutil observador e capaz de poderosa capacidade de síntese, parece contaminar o leitor, que seguimos a narrativa como se fosse um artigo acadêmico. De resto, Melville sabe provocar no leitor reflexão madura sobre temas complexos. Muito interessante. Esse livro faz parte de uma coleção de histórias curtas (A arte da novela, da Grua Livros, originalmente produzidas pela Melville House Publishing, das quais já li: "Mathilda","Michael Kohlhass", "A ilha de Falesá", "O homem que queria ser rei", "O homem que corrompeu Hadleyburg", "O colóquio dos cachorros", "Stempenyu: O romance judaico", "A lição do mestre", "A pedra de toque", "A briga dos dois Ivans" e "O véu erguido"). Haverá mais das boas novelas da Grua por aqui. Vale!
Registro #1363 (novela #73)
[início: 03/01/2019 - fim: 04/01/2019]
"Benito Cereno", Herman Melville, tradução de Bruno Gambarotto, São Paulo: Grua livros (Coleção a Arte da Novela), 1a. edição (2018), brochura 13x18 cm., 148 págs., ISBN: 978-85-61578-73-2 [edição original: Benito Cereno (New York: Putnam's Magazine) 1855]

Um comentário:

Paulo Rafael disse...

Fiquei interessado em ler este! Sou fã do Bartleby, por exemplo...