terça-feira, 15 de março de 2011

suicídios exemplares

Os livros de Enrique Vila-Matas são garantia de histórias disparatadas e provocações mentais. Ele parece sempre convidar o leitor a entrar em uma espécie de jogo, mas também dá a entender que ele - senhor de seus castelos de ficção - é mesmo um completo trapaceiro. "Suicídios exemplares" foi publicado originalmente em 1991, pouco depois de "Una casa para siempre" e antes de "Hijos sin hijos". São dez contos, enfeixados por um prólogo e um posfácio onde Vila-Matas apresenta e exemplifica seu projeto: proporcionar ao leitor momentos de reflexão sobre a idéia do suicídio (na verdade sobre a miríade de formas pelas quais se pode experimentar coisas parecidas com o suicídio: viver vidas sem sentido, mentir a si mesmo, perder-se por amor, escrever romances de ficção). Nas dez histórias estamos sempre perto do mar, somos apresentados a citações que podem ou não serem corretas, rimos sem pudor do bizarro e da morte. Em um dos contos uma garota faz uma viagem sentimental à cidade onde seu pai radicou-se e descobre que ele ali fundou uma seita de suicídas. Em um outro um sujeito esconde sua condição de estrangeiro em uma ilha por quarenta anos, período em que escreve em segredo romances potencialmente agressivos, denunciadores da vaidade e hipocrisia dos ilhéus. Numa história descreve como um ator deixa-se desgraçar lentamente quando percebe não ter talento algum. Em uma outra história acompanhamos um garoto que descobre o poder das palavras cruéis com as quais pode ferir simultaneamente detratores e colegas. Em todas as histórias há equilíbro entre sarcasmo e humor. Na mais divertida delas, "Pedem que eu diga quem eu sou", Vila-Matas inverte seu nome e torna-se um personagem satânico, terrível, que parece responder não a seu personagem interlocutor, mas a cada um dos eventuais leitores. Ele identifica o ofício de escritor com o de uma deidade poderosa, que cria e destrói sem motivação ou culpa. Ele parece dizer que a idéia e a lembrança do suicídio, ao se manifestar em qualquer escolha ou ato da vida (como amar, viajar, escrever, interagir, relembrar, inventar) é o que nos permite suportar as reiteradas desventuras que experimentamos. São contos realmente muito bons. [início 06/02/2011 - fim 01/03/2011]
"Suicídios exemplares", Enrique Vila-Matas, tradução de Carla Branco, São Paulo: editora Cosac Naify, 1a. edição (2009), brochura 15,5x22,5 cm, 208 págs. ISBN: 978-85-7503-796-6 [edição original: Suicidios ejemplares, Anagrama (Barcelona) 1991]

3 comentários:

Alexandre Kovacs disse...

Também escrevi uma resenha sobre este livro, se tiver tempo e interesse:

http://mundodek.blogspot.com/2010/09/enrique-vila-matas-suicidios-exemplares.html

Vic disse...

Nossa me interessei em ler esse livro !!

Aguinaldo Medici Severino disse...

pois você vai se divertir. é um autor muito interessante. inté!