No início de junho, na véspera daquele dia festivo em que comemoramos em São Paulo os 70 anos do Frank Missell, amigo querido, eis que tive a sorte de ir a um evento na sempre agitada e paulista Casa das Rosas. Tratava-se de uma edição do SAP (Seminário de Ação Poética Multimídia), evento em que Frederico Barbosa mediava um debate entre os poetas Lucio Agra e Ricardo Aleixo (Aquele recifense, esse belorizontino). Foi uma conversa produtiva sobre a arte multifacetada da performance e as experiências de ambos neste ofício (inclusive com a didática e as viagens). Após o debate cada um apresentou sua performance. Foi uma noite realmente instigante. Naquele dia consegui comprar "Modelos vivos", livro de Aleixo que foi produzido como resultado de uma bolsa de criação literária que ele obteve em 2006. Trata-se de um livro-objeto, um livro-arte, uma peça gráfica que realmente impressiona em si, mas sabemos antes de ler que é o texto que deverá nos surpreender. Nele estão reunidos aquilo que alcança ser impresso dentre as peças produzidas por ele originalmente para performances ou gravações. Aleixo registra na apresentação o débito que tem com o poeta e designer Bruno Brum, que assina a produção visual do livro. As formas do livro são serpeantes. Numerados são 75 poemas no livro, mas cada um deles parece pertencer a um universo diferente. Há um legítimo e irônico soneto entre os poemas, mas também há epigramas, grafismos, poemas visuais, experimentos caligráficos, imagens em preto e branco, fotografias expandidas. Gostei especialmente de um longo texto que Aleixo chama de "O poemanto: ensaio para escrever (com) o corpo". Trata-se de algo que apresenta uma biografia ou caminho, mas também convida o leitor a refletir sobre conceitos e temas próprios do ato performático. Gostei também de seu provocativo "Antimusak" (uma espécie de carta de princípios em defesa da boa música em tempos de ruído e fúria). Não sei se chegam a ser exatamente temas recorrentes, mas após meus meses de leitura, com o livro indo e vindo na bolsa, perdendo-se entre outros, esquecido e lembrado, sempre o associo a "sons", "contrastes", "dança' e sobretudo "razão". O sonho da razão de Ricardo Aleixo não produz monstros como os de Goya, mas sim umas estranhas belezuras. Evoé Aleixo, evoé.
[início: 07/06/2014 - fim: 27/09/2014]
"Modelos Vivos", Ricardo Aleixo, Belo Horizonte: editora Crisálida, 1a. edição (2010), brochura 14x21 cm., 160 págs., ISBN: 978-85-87961-59-4
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