Só conhecia o Ettore Bottini ilustrador, designer gráfico respeitado, capista prolífico de muitos dos livros que li ainda nos anos 1980 (outro nome que se repetia e igualmente encantava através de suas propostas gráficas era o Victor Burton). Quem saberia dizer quantas capas ambos produziram? Muitas centenas certamente. "Uns contos" é um pequeno livro de invenções, ficção pura, (conheço dele um outro, muito bonito, onde são descritos jogos infantis, brincadeiras de rua que ele experimentou na São Paulo dos anos 1950, mas nesse são antes as memórias que a invenção quem dá o tom). Bueno. Em "Uns contos" encontramos dois conjuntos de narrativas. Onze são contos propriamente ditos, muito bons, inventivos, bem escritos. Sete outros estão destacados abaixo do subtítulo "Aparas". São histórias que podem ser tratadas como ainda embrionárias, que talvez ganhassem desdobramentos, mas nos quais o leitor pode entender também ser a concisão proposital (ser o que enfeixa aquelas aparas). O livro começa e termina com histórias ambientada no mundo do turfe, das corridas de cavalos. Com exceção de uma ou duas a maioria das demais não são propriamente urbanas, já que seus protagonistas viajam, visitam fazendas, sítios, saem para pescar, se fazem ao mar. Numa delas ("Todos os medos"), o narrador tem uma epifania provocada por um coquetel de remédios em que se misturam a consciência dos efeitos da química, o medo literariamente provocado e a lembrança de um tiroteio ocorrido em sua infância. Que bela história. Ettore Bottini morreu no final do ano passado. Talvez Mnemósine tenha sido generosa (e brincalhona), tenha deixado nos guardados de Bottini mais algumas maravilhas como essas aqui reunidas. Veremos.
[início: 01/09/2014 - fim: 04/09/2014]
"Uns contos", Ettore Bottini, São Paulo: Cosac Naify, 1a. edição (2013), brochura 13x19 cm., 128 págs., ISBN: 978-85-405-0585-8
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