terça-feira, 28 de agosto de 2007

bonnie and clyde


Claro que comprei este livro simplesmente pelo título. O "Joyce" ali na capa me atraiu como um ímã em meio a babel em que estava transformada a livraria da travessa naquele glorioso sábado de vagabundagem no rio de janeiro. Mas eis que comprei o livro e pus-me a ler para achar o tal Joyce escondido nele. Trata-se de uma novela curta com um acento policial. Um jovem catalão e sua namorada sul-americana começam a praticar uma série de assaltos violentos na Barcelona dos anos 1980. O tédio da vida medíocre de desocupados parece ter sido o motivo primordial para o início na vida de crimes. O tom é algo debochado. Escrito a quatro mãos por dois jovens à época do lançamento original deste livro, em 1984, "Consejos..." lê-se sem muitas preocupações em saber se afinal o casal será preso ou contará com a espécie de sorte de principiante que parece acometê-los. O jovem tem planos de escrever um grande livro, baseado um tanto nas peripécias de Stephen Dédalus pelos livros de James Joyce e igualmente nas andanças de Joyce por Paris. Jim Morrison e os the Doors fazem a trilha musical mental do sujeito enquanto ele fica a tentar entender como sua namorada pode ser tão fria e calculista (a mulher faz o homem, parece repetir-nos os autores). Como um James Joyce com sentimento de culpa o jovem do livro de Bolaño e Porta escreve cartas elípticas e cifradas para sua mãe, onde tenta explicar-se da perseguição policial. Lê-se este livro sem muita pretenção, mas trata-se mesmo de um esforço honesto de emular algo de Joyce. Como brinde o livro ainda contêm um curto conto na forma de diário chamado "Diário de bar", meio tolo pareceu-me, mas eu já estava cansado das trapalhadas dos dois assaltantes para pular para o tom mais cerebral deste conto (apêndice dispensável, eu, editor furioso, diria). Para um livro de estréia de ambos (o chileno Bolaño e o catalão Porta) trata-se mesmo de um belo livro.
Consejos de um discípulo de Morrison a un fanático de Joyce, Roberto Bolaño & A.G. Porta, editora Acantilado, 1a. edição (2006) ISBN: 84-96489-39-6

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

cuentos

Ganhei este livro de contos quando estive no Rio de Janeiro. Segundo don Jesus Gonzáles e suas meninas Maribel, Clara e Bárbara o livro foi lançado no ano passado em catalão e, traduzido pelo próprio autor para o castelhano. Relançado no início deste ano já está alcançou a quarta edição. São contos fantásticos, que lembram o Cortázar dos cronópios e famas e também o Borges do Aleph e do Livro de Areia. Os contos são realmente curtos, mas muito bem escritos e refinados, demonstrando que o autor conhece mesmo seu ofício (talvez demasiadamente destro, mas esta é outra história). Após terminar a leitura fiquei com uma má impressão do livro, pois parecia que eu queria terminá-lo logo não porque as histórias eram interessantes e bem escritas, mas sim porque já estava enfadado daquilo tudo. Isto nunca é um bom sinal. Os vinte contos envolvem histórias do cotidiano, por vezes estravagantes demais, parecendo exercícios de estilo, mas inegavelmente quase sempre têm um misto de graça e ironia. Claro que há histórias realmente memoráveis, mas eu acho que vou ter de ler mais volumes de Pàmies para me acostumar com seu ritmo. O livro inclui uma apresentação do escritor catalão Enrique Vila-Matas que a meu ver deveria ser colocada no final do livro. Digo isto pois caí no erro de lê-la antes dos contos de Pàmies e não posso compartilhar do genuíno entusiasmo de Vila-Matas com a qualidade dos contos. Talvez eu esteja mal humorado demais para ler contos nestes dias frios de inverno, mas a laudatória apresentação aumentou em demasia a expectativa que tive ao iniciar sua leitura. Vamos em frente que há muito ainda para ser lido neste ano.
Si te comes un limón sin hacer muecas, Sergi Pámies, , editora Anagrama, 4a. edição (2007) ISBN: 978-84-339-7147-0

terça-feira, 21 de agosto de 2007

coleções


Descobri recentemente que se mantiver meu ritmo dos últimos anos terei à idade de meu pai lido algo em torno de 2000 livros. Senti um friúme pois minha biblioteca pessoal já tem uns tantos mais volumes que este número mágico e minha cota de leituras pareceu-me já estar a priori definida pelas escolhas que fiz no passado. Entretanto, como os livros têm mesmo a capacidade infinita de nos surpreender, eis que resgatei de um desvão da estante este curioso livro de Alberto Manguel, publicado no ano passado. Em "A Biblioteca À Noite" ele analisa com muita precisão vários aspectos do processo de colecionar livros e apresentá-los sob alguma ordem em bibliotecas. Praticamente tudo relacionado ao procedimento de montar uma biblioteca é discutido: sua arquitetura, seus sistemas de catalogação, sua fragilidade, sua perenidade, sua presença no imaginário do homem contemporâneo, sua vastidão, a constatação do quão fortuitas são as escolhas de cada volume. Quem não passou bons momentos em uma vasta biblioteca pública ou em uma biblioteca repleta de sombras e ruídos estranhos de um tio ou um amigo mais velho de seus pais? Qualquer leitor que tenha experimentado a magia de ter, frequentar e montar uma biblioteca certamente encontrará neste livro um excelente guia e fonte de inspiração para reflexões sobre o hábito da leitura. Há várias reproduções ilustrando o livro e um bom índice remissivo. Apesar de achar que o tom francamente pessoal poderia ser um tanto mais velado, não há como não recomendar a leitura desde original livro.
"A Biblioteca À Noite", Alberto Manguel, tradução de Samuel Titan Jr., editora Companhia das Letras, 1a. edição (2006) ISBN: 85-359-0881-1

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

feiticeira


Quando vi este livro do Hughes e o ano da publicação fiquei curioso e ávido por ler, pois o outro livro dele "Barcelona", que li recentemente e reenhei aqui, havia realmente me impressionado muito. Será que ele continuaria a história da "velha feiticeira" do ponto em que parou? Acrescentaria alguma coisa? Infelizmente não é bem isto. Publicado em 2004, mais de quinze anos após o anterior, "Barcelona: The Great Enchantress" tem pouco material inédito. Feito de encomenda para o grupo National Geographic, em uma série de reportagens sobre cidades do mundo, este pequeno livrinho contem claro algumas das excelentes passagens do livro anterior, mas são realmente muito curtas para se ter uma idéia do que o outro livro apresentava. Não há o farto material iconográfico, as longas passagens sutis e inspiradas de antes. Não há os anexos bibliográficos e as sugestões de leituras mais técnicas. Claro, há um tom mais pessoal, agradável de se acompanhar e boas passagens que contam um tanto como o autor veio pela primeira vez a cidade e dos grandes amigos que fez (e manteve) ao longo dos últimos quarenta anos. Uma frase inédita que realmente eu gostei diz algo mais ou menos assim: Você é uma pessoas realmente afortunada caso, não muito tarde na tua vida, descubra uma outra cidade, distinta de sua cidade natal, que seja verdadeiramente a "sua" cidade. Eu acredito nisto também. Se identificar com um lugar a ponto de gostar de se apresentar como um nativo daquele lugar me parece um fenômeno que dá ao sujeito um prazer enorme e indistinto. Se é que eu posso sugerir algo para os eventuais e extemporâneos leitores deste blog eu diria que a leitura indicada segue sendo o original Barcelona, de 1988. Este livro é apenas um aperitivo que, ao menos para mim, de alguma forma pode até afastar o leitor do encantamento que a velha feiticeira pode provocar. De qualquer forma é um livro honesto a disposição de quem se inspire a enfrentá-lo.
Barcelona: The Great Enchantress, Robert Hughes, National Geographic Directions, 1a. edi ção (2004) ISBN: 0-7922-6794-X

sábado, 4 de agosto de 2007

nostos 1


Este segundo volume da tradução do Donaldo Schüler da Odisséia ficou esperando os outros projetos. Li aos poucos, sempre interrompendo para incluir outras urgências e outras prioridades. Não é a forma mais inteligente de se ler um livro, mas como eu já disse na resenha do primeiro volume desta tradução a Odisséia me acompanha já há anos demais para que eu tenha uma postura reverente em relação ao poema. Lembro da primeira leitura, em uma edição de bolso, emprestada da biblioteca central de São Bernardo, que lia enquanto cortava amostras de Nióbio, para um projeto que estava começando com o Frank Missell (o Brasil têm uma das maiores jazidas de Nióbio do mundo e sempre ficamos a nos perguntar o que fazer com isto, mas esta é outra história). Neste segundo volume o tema é o regresso (a primeira parte dele). Nele são contadas algumas das aventuras de Odisseu (do Ulysses) entre a saída da ilha de Ogígia, onde estava retido por Calipso, e a chegada à Ítaca, onde haverá a matança dos pretendentes. Retrospectivamente o próprio Ulysses contará o que aconteceu desde a saída de Tróia até a chegada a Ogígia. Estes cantos (do 5 ao 12) começam com a assembléia dos deuses onde é decidido já ser a hora do início da viagem de volta pelo mar. Calipso é avisada disto por Hermes e o auxilia, mesmo a contragosto, a preparar uma embarcação. Athena sempre vigilante auxilia-o na viagem pelo mar e apesar de algumas atribulações, geradas principalmente por Poseidon, que cobra os últimos tributos de castigo ao herói destruindo sua barcaça ainda em alto mar, Ulysses chega às terras do rei Alcínoo, dos Feáceos. Quem o ajuda no início é Nausícaa, filha do rei, e é de lá que o herói se preparará para voltar a Ítaca e retomar seu próprio trono (e finalizar o regresso). Estes oito cantos estão repletos de regras de diplomacia e de boa educação. Qualquer pessoa que hospeda e que se deixa hospedar com alguém deve ler estes cantos para aprender algo de etiqueta (mesmo após estes 3000 anos ninguém pode dizer que os gregos não cultivavam uma espécie de boa educação). Buenos. Após os cantos 5, 6 e 7 um banquete é preparado e jogos festivos são organizados. Ulysses ouve no canto 8 sua própria história dos tempos da guerra em Tróia sendo contadas por um aedo. Há um aspecto curioso aí pois como no Quixote, centenas de anos depois, um personagem ouve relatos de si próprio e a luz disto, modifica sua trajetória pessoal em uma história. Este tipo de efeito faz com que muitos atribuam multiplicidade de autores aos 24 cantos da obra (há quem defenda que este ciclo em especial foi escrito por uma moçinha, que descreve a costa da Sicília e as ilhas dos arredores, mas esta também é outra história). Nos cantos seguintes (9,10,11) Ulysses finalmente se apresenta e passa a contar o que aconteceu desde a saída de Tróia ao final da guerra. As histórias que usualmente associamos a Ulysses (com a exceção da matança dos pretendentes) acontecem nesta sessão: Ele e seus comandados são forçados por seus próprios atos impensados a deambular pelo mar Egeu e pelo mar Tirreno, se envolvendo com os Cicones, os Lotófagos, os Ciclopes (no canto 9), bem como com o rei dos ventos Éolo, os Lestrígones e a feiticeira Circe (no canto 10) que sugere que a volta só se dará após Odisseu descer ao inferno, onde ele deve consultar a alma de Tirésias. No canto 11 é descrita a descida e as conversações com os mortos. No canto 12 as últimas perturbações e a morte de seus últimos companheiros com a passagem pela ilha das sereias, pelo estreito entre Cila e Caribdes e o repasto indevido dos bois do deus Hélios. Mortos os companheiros Odisseu naufraga na ilha de Ogígia e ali ficará aos cuidados de Calipso por 7 longos anos. Apesar de ler com vívido interesse eu ainda não me convenci de todos os acertos da tradução de Donaldo Schüler, mas vou esperar terminar o terceiro volume para escrever algo mais objetivo sobre isto. Claro que ela é fácil de ler e nos apresenta o poema honestamente, mas há algumas soluções que me tiram do sério: "cuscos", "vapt-vupt", "tempão", "peidos na fuça", "salário", "canseira", "baboseira" e mesmo o singular "Nulisseu" ainda se batem com meus neurônios cansados. Volto a este ponto quando terminar o terceiro volume. Bom divertimento até aqui.

"Odisséia II - egresso", Homero, tradução de Donaldo Schüler, editora LP&M, 1a. edição (2007) ISBN: 978-85-254-1632-0

diversão

Talvez meu conceito de "livros que eu li" seja um tanto flexível demais, mas a função deste blog é manter uma lista atualizada de minhas leituras "ex officio", por mais variáveis que sejam. Minhas listas de livros lidos remontam a 1980, quando começei a usar as últimas páginas de minhas agendas para listar título, autor, editora e ano da edição dos livros que ia lendo. Como nunca jogo fora uma agenda tenho uma coleção de listinhas de livros lidos. Todavia minha letra é trabalhosa mesmo para mim (e as encarnações anteriores deste vivente geraram algumas garatujas realmente difíceis), por isto achei que por ser a inteligência muitas vezes confundida com computação, um uso inteligente mesmo das facilidades de informática era digitalizar as minhas listas. Há que se começar um dia e janeiro deste ano foi este "dia". Este mangá entra aqui pois ao longo dos anos eu sempre leio coisas inusitadas para relaxar: já li os Harry Potters, já li "gibis", enfim, leio que for escrito em uma língua que eu conheça os rudimentos. Sand Land é um mangá independente da primeira fase de Akira Toriyama, que estreiou nos mangás no final dos anos 1970 e fez muito sucesso com a série Dragon Ball, que já vendeu meio milhão de exemplares no mundo todo. A curiosa história de Sand Land mostra um mundo onde a água é produto raro e caro. Um militar aposentado e um par de demônios resolvem juntar esforços para descobrir se a lenda de uma fonte de água escondida em um deserto é mesmo verdadeira. Nada muito sofisticado (ou pretencioso). Personagens interessantes, desenho sempre ágil, enfim, um honesto mangá, para um final de dia estressante ou uma noite de insônia qualquer. Bom divertimento.
Sand Land, Akira Toriyama, Editora Conrad, tradução de Drik Sada, 1a. edi ção (2006)

recetas

Este é um dos livros que eu fiquei na dúvida se deveria ou não incluir aqui. Acontece que é praticamente um livro de receitas e um livro de receitas nunca é lido de capa a capa. Todavia o formato deste "delicioso" livro o transforma em muito mais que um porto seguro de receitas. Carvalho é o personagem principal das novelas policiais de Montalbán. Ele escreveu ao longo de trinta anos 22 livros policiais onde o povo espanhol e seus hábitos nós é contado através de personagens de ficção, como Carvalho, Biscuter, Charo, Fuster, Bromuro e tantos outros, incluindo, como não, a própria cidade de Barcelona, a grande feiticeira. Eu já resenhei ao menos uns oito livros de Montalbán aqui e boa parte deles são da Série Carvalho. Além da prosa bem construída, dos roteiros enxutos, das frases lapidares, há sempre uma receita escondida nos livros. Ora o personagem prepara algo para algum amigo, ora é convidado para um restaurante e passa a teorizar sobre os melhores acompanhamentos e os melhores vinhos. É verdade que muitas vezes é Biscuter, seu ajudante e secretário, quem prepara as mais surpreendentes e realmente mágicas alquimias gastronômicas. Sempre é uma grata surpresa encontrar uma receitas nestes instigantes livros. O que diferencia este "Las Recetas de Carvalho" de um mero livro de receitas é o fato deste trazer sempre um generoso trecho dos volumes originais onde cada uma das receitas aparece. Assim o leitor passeia pela obra policial de Montalbán e pode avaliar sim avaliar se aquele estilo sarcástico e cortante é mesmo algo que deve-se começar a experimentar. A edição original deste livro é de 1988 portanto só há receitas dos livros da série Carvalho publicados até então. Há um outro volume também editado por Planeta onde as demais receitas são igualmente compiladas. Bom. Li todas as passagens destacadas dos livros, mesmo daqueles que ainda não encontrei, já aguçando a curiosidade. Quem sabe um dia não ponho as mãos nos outros volumes? Quanto as receitas namorei várias, comparei uma dúzia de outras, mas preparei apenas um prato: Bacalao al pil-pil, cuja sonoridade desde os tempos de Barcelona eu já ensaiava experimentar, apesar do prato ser originalmente basco e não catalão como o personagem. O preparo é realmente simples mas envolve um movimento para obter a emulsão que é meio chato de fazer. O resultado é muito bom. Acho que este livrinho de receitas não ficará tímido na companhia dos outros de minha biblioteca que já foram mais testados e justificados. Bom apetite.
Las Recetas de Carvalho, Manuel Vázquez Montalbán, editorial Planeta, 1a. edi ção (2004) ISBN: 974-84-08-05505-1

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

almuerzos


Publicado em 1984 "Mis Almuerzos con Gente Inquietante" é um livro de jornalismo da melhor qualidade. São 21 entrevistas com espanhóis que de uma forma ou outra serviram ao autor (o sempre instigante Manuel Vazquez Montalbán) como mote para contar um tanto sobre o período de transição para a democracia na Espanha, desde os anos imediatamente posteriores a morte do ditador Francisco Franco em 1975 até os primeiros anos do governo socialista de Felipe Gonzáles (eleito quase surpreendentemente em 1982). A Espanha que transparece neste livro talvez não exista mais, ao menos não para um leitor estrangeiro desavisado como eu. De toda a lista de entrevistados conhecia dois nomes: Bibí Andersen, por conta dos filmes da primeira fase de Pedro Almodóvar, e Jesus Quintero, el louco de la colina, que vejo à noite de vez em quando da tv espanhola pela net. Os outros soavam estranhos: quem seriam Roca Junyent, Xavier Vinader, Fraga Iribarne, Antonio Asensio, Julio Anguita e todos os demais? Fácil. Em rápidas frases Montalbán consegue apresentar personalidades fortes para o leitor sem deixar de opinar sobre elas. São personagens bem variados: políticos a maioria deles, mas também financistas, militares, empresários, jornalistas. A única mulher descobri depois foi casada com o primeiro ministro à época Felipe Gonzáles. O único travesti era o Bibí Andersen dos já citados filmes do Almodovar. Os demais, homens que certamente tiveram seu quinhão nos momentos decisivos desta transição política curiosamente complexa. Montalbán não deixa de vazar seu passado de comunisata engajado, mas entrevista civilizadamente e com bastante cortesia desde grandes reacionários ex-ministros de Franco até elípticos advogados dos militantes armados do país basco ou empresarios catalães plenos de "seny", o bom senso liberal . Algumas entrevistas são menos focadas nos muitos pactos que necessariamente o povo espanhol teve de fazer por conta da transição, mas nenhuma delas é perfunctória. Há um excelente índice onomástico que ajuda o leitor a localizar os personagens deste curioso livro. O formato encontrado por Montalbán tem seu aspecto curioso. Ele sempre encontra seus entrevistados ao redor de uma mesa, durante um almoço, onde quase sempre é o entrevistado que escolhe o cardápio e as bebidas. Gastrônomo que é Montalbán usa este artifício para analisar a personalidade dos entrevistados, afinal desde que saímos de uma caverna e aprendemos os primeiros rudimentos de convívio social os hábitos à mesa definem necessariamente o que somos e o que fazemos. Como lembra sempre Montalbán, citando Marx, se queres conhecer um povo deves conhecer seu pão e seu vinho. Estes instiganges almoços de entrevista são bons de acompanhar mesmo após estes vinte e tantos anos e os quase dez mil quilômetros que nos separam, leitores deste ainda mais complexo século 21.
Mis almuerzos con gente inquietante, Manuel Vázquez Montalbán, Editora Randon House Mondadori, 1a. edi ção (2004) ISBN: 84-9793-459-8