Márcio Grings é um jornalista dos bons. Digo isto sem saber se ele é formado em jornalismo (nestes tempos bicudos esta questão tem lá seu valor), mas ele faz bem um ofício que eu associo com jornalismo: informar sua tribo sobre um assunto com riqueza de detalhes e precisão, encantamento e objetividade. Se o assunto é cultura pop, rock & roll, blues, jazz, música da boa, literatura, cinema, geração beat, contracultura, o sujeito sabe se virar, e bem por sinal. Atualmente ele coordena a programação de uma rádio local. Salvo erro meu este é seu quinto livro. Os primeiros eram de poesia, mas no último a veia de prosador já tinha tomando conta do sujeito. Os textos deste "A nós, o clube dos descontentes" são um tanto indefiníveis na verdade. Não são ensaios propriamente, nem crônicas de um cotidiano compartilhado entre ele e outros da cidade. Mais bem parecem apontamentos e reflexões de alguém que quer entender melhor o mundo e suas ações nele. Ele verbaliza umas idéias, mistura um tanto prosa e poesia, como Baudelaire já ensinou ser possível. Suas influências aqui são mais ou menos óbvias: Bukowski certamente, Fante e Kerouac, talvez. O livro é ilustrado por Paulo Chagas, um editor de arte profissional que produz um bom diálogo entre suas ilustrações e os textos. Carolina Carvalho assina uma boa introdução e Marcelo Canellas faz uma apresentação generosa na orelha do livro. Dos textos há coisas que eu não gosto, como alguns poemas em prosa, ou prosa esparramada, repletos de enigmas pessoais impenetráveis ao leitor, histórias que não se resolvem mesmo. Estes hermetismos me aborrecem na verdade, pouco acrescentam aos textos e não chegam a criar um clima particularmente interessante. Já outras coisas são vibrantes e te pegam na primeira leitura. Quando isto acontece não há como não ficar satisfeito. Se é que eu posso fazer ainda um reparo, diria que a idéia do título do livro poderia ser melhor contextualizada. Parece uma piada particular, que a meu juízo é descrita de forma bastante distinta pela Carolina, pelo Marcelo e pelo próprio Márcio (no texto). Mas o melhor dos Marx já nos ensinou que clubes são lugares que não devemos invejar, nem tampouco entender. Longa vida ao deles então. Enfim, "A nós, o clube dos descontentes" é um bom e honesto livro, bem editado por uma editora que merece ser acompanhada de perto. [início 27/05/2009 - fim 29/05/2009]
"A nós, o clube dos descontentes", Márcio Grings, editora Barco a Vapor (1a. edição) 2009, brochura 14,5x22,5, 127 págs., ISBN: 978-85-7782-072-6