“El puente de los asesinos” é o sétimo volume
das aventuras do capitão Alatriste. É o antepenúltimo dos livros
prometidos por Arturo Pérez-Reverte para a saga de seu personagem mais famoso.
A narrativa segue quase imediatamente os sucessos de “Corsários de Levante”.
Alatriste, Íñigo, Copons e Gurriato, ainda se recuperando dos acidentes de sua
última aventura, estão vagabundeando na licenciosa Nápoles quando são
recrutados para uma expedição militar muito arriscada: matar o doge da
sereníssima república de Veneza, no preciso instante em que ele estivesse
sozinho na gloriosa basílica de são Marcos, na noite da missa do galo do natal
de 1627. A empresa é mirabolante e inverossímil, claro, mas o leitor não tem
porque duvidar da possibilidade de Alatriste e seus comandados chegarem a bom
termo em seus propósitos. O fator complicador (e apresentado logo do início do
romance) é a presença de Gualterio Malatesta, o sinistro espadachim italiano,
antagonista de Alatriste, que havíamos visto, pela última vez, acorrentado pela
milícia do rei Felipe IV, rumo a torturas e segura morte logo
após o que é descrito no “El cabellero del jubóm amarillo”. Apesar do risco
absurdo Alatriste, como todo bom herói trágico, resolve participar do projeto, pois há pedidos para os quais não
se pode dizer não (principalmente aqueles cuja origem é o poderoso conde-duque de Olivares, o valido do rei, importante figura do xadrez político do século de ouro espanhol). A narrativa (e a organização do ataque, que envolve três duzias de pessoas) segue de Nápoles a Roma, depois Milão e Veneza. Esse volume da série Alatriste deve muito aos romances de espionagem de John le Carré ou Ian Fleming. Os personagens/indivíduos se comportam como peças de um jogo maior, que não controlam, mas são disciplinados e tentam cumprir as tarefas a que foram designados. Íñigo está menos rebelde que no volume anterior. Alatriste um tanto mais soturno e cerebral do que o costume. As descrições dos palazzos, das igrejas, do poderoso Arsenale, dos canais e vielas, dos rio tera estreitos, dos bares repletos de indivíduos suspeitos hipnotizam o leitor. É sempre doce flanar e sentir saudades de Veneza. Após muitas escaramuças, traições, violência e combates singulares (e após o inevitável fracasso da empreitada) o grupo termina em uma pequena ilhota próxima ao Lido, esperando ser resgatado pelos espanhóis. Pérez-Reverte usa várias vezes um patois linguístico, que ele atribui ser a língua franca do mediterrâneo daqueles dias do século XVII. Apesar do inegável valor historiográfico destas histórias, a narrativa fica comprometida pela certeza que temos da invulnerabilidade dos personagens principais (sabemos que Alatriste sobreviverá para combater outras batalhas, que Íñigo viverá muitos anos até escrever as memórias que iremos ler). De qualquer forma, como diversão ligeira, o romance funciona, mas certamente não é dos melhores da série que li até aqui. Paciência. O livro inclui ilustrações muito boas assinadas por Juan Mundet e, como usualmente nos romances de Pérez-Reverte, sonetos e redondilhas que ele atribui a poetas e dramaturgos reais (Quevedo, Lope de Vega, Góngora) e inventados (o mais óbvio é o de Xavier Marías Franco, rey de Redonda). Estes jogos metaliterários funcionam quando são divertidos. [início 28/01/2012 - fim 31/01/2012]
"El puente de los asesinos", Arturo Pérez-Reverte, Madrid:
Alfaguara (Grupo Santillana de ediciones) , 1a. edição
(2011), brochura 17,5x24 cm, 270 págs. ISBN: 978-84-204-0709-8